Editorial: Tensão em Hong Kong
A ocupação do centro de Hong Kong por dezenas de milhares de manifestantes em prol da democracia traz à lembrança os trágicos acontecimentos que tiveram lugar em Pequim, em 1989. Naquela ocasião, uma multidão viu-se reprimida com extrema violência, no episódio conhecido como o "Massacre da Praça da Paz Celestial".
Os protestos em curso na ex-colônia britânica não dão sinais de arrefecimento. Ao contrário, os apelos da autoridade local têm sido ignorados, e as manifestações recrudesceram após a intervenção da polícia, na noite de domingo (28).
Em meio a insatisfações com a situação econômica, o principal alvo do movimento é a garantia de plenas liberdades, em observação aos princípios que presidiram a passagem de Hong Kong para a esfera da China, em 1997.
O acordo de transição criou a fórmula "um país, dois sistemas". A submissão da economia ao Estado e a centralização da ditadura chinesa não seriam implantadas na região administrativa especial da ex-colônia por 50 anos, período em que se manteriam o arcabouço democrático e a livre-iniciativa.
O compromisso foi quebrado por recente decisão que afeta as eleições marcadas para 2017: o governo central arrogou-se o direito de aprovar previamente os candidatos que poderão participar do pleito.
A medida foi vista como um indício de que a China estaria disposta a intervir e ampliar seu controle sobre Hong Kong, uma importante praça financeira internacional.
Os líderes da ocupação pretendem transformar esta quarta-feira (1º) num dia simbólico de protestos: trata-se da data em que o Partido Comunista da China celebra 65 anos de existência. Parece improvável que o governo chinês recue. A tensão tende a crescer.
O impasse tem gerado insegurança entre empresas que atuam na Cidade-Estado e também em Taiwan, ilha independente há seis décadas sobre a qual Pequim reivindica soberania.
Até aqui, EUA e Reino Unido, os fiadores da transição, manifestaram-se de maneira cautelosa. Se, por um lado, veem com simpatia as reivindicações em favor das liberdades, por outro prevalece o pragmatismo imposto pelo peso econômico e estratégico da potência oriental –que também é a principal parceira econômica do Brasil.
Tem sido essa a conduta dos países ocidentais diante das violações de direitos na China. É difícil crer que tal padrão seja modificado.
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