Editorial: Ciência brilhante
Começaram há poucas semanas as obras do Sirius, um dos mais importantes –e caros– projetos da história da ciência brasileira.
Se tudo se materializar conforme o planejado, em 2018 funcionará em Campinas (SP) um anel de 235 metros de diâmetro cuja função é acelerar elétrons a velocidades inimaginavelmente altas.
Seu objetivo não é o de provocar colisões entre partículas para estudar suas propriedades, como ocorre, por exemplo, no LHC, o maior acelerador do mundo. No Sirius não existem tais choques.
A máquina, orçada em R$ 1,3 bilhão e bancada na maior parte por dinheiro federal, produzirá um tipo especial de radiação, a chamada luz síncrotron, que possui utilidade em várias áreas de pesquisa, como física, química, biologia, geologia, nanotecnologia, engenharia de materiais e paleontologia.
O dispositivo funciona como um gigantesco microscópio, permitindo enxergar a estrutura atômica e molecular dos mais diversos materiais, desde proteínas e fármacos até ligas metálicas, passando por produtos da agroindústria.
Batizado em homenagem à estrela mais brilhante do céu, o Sirius substituirá o acelerador UVX, operado desde 1997 pelo LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), divisão do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), também responsável pela nova máquina.
O UVX, apesar de ter servido bem aos cientistas por toda uma geração, é considerado ultrapassado. Seu substituto, asseguram os construtores, estará entre os mais sofisticados do planeta, comparável apenas a um instrumento atualmente em construção na Suécia.
Trata-se de projeto com aplicação para a ciência e a tecnologia nacionais. Em primeiro lugar, porque já existem demandas não satisfeitas pelo atual equipamento tanto na academia como nas empresas.
Além disso, com a capacidade do Sirius, o país deverá se tornar um competidor em nível mundial nesse tipo de técnica, com potencial para atrair colaborações internacionais nos mais diversos campos de pesquisa.
Por fim, a construção do acelerador prevê uma articulação de empresas brasileiras no desenvolvimento e na produção das tecnologias necessárias para pôr a máquina de pé, com ganhos para o país.
Os frutos dessa empreitada serão colhidos por décadas. Mas, para que o cronograma do Sirius não atrase, será necessário um fluxo anual de cerca de R$ 300 milhões –verba que, a esta altura, já deve viver sob a ameaça dos inúmeros cortes no Orçamento.
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