Editorial: Escassez transparente
A lenta recuperação do nível da água no sistema Cantareira, de 3,8% no início de fevereiro para 15,4% no final de abril, trouxe a falsa impressão de que a crise hídrica estava superada. Nada mais distante da realidade.
Em abril, as chuvas representaram apenas metade da média histórica para o mês. Nos primeiros quatro dias de maio houve quase zero de precipitação (0,1 mm).
Para completar o quadro, na quinta-feira (30) as quatro represas do sistema –o mais importante para a região metropolitana de São Paulo– tiveram a primeira queda em três meses.
Desde então o nível se manteve estável. Nunca é demais lembrar, porém, que os mais de 5 milhões de habitantes ainda abastecidos pelo Cantareira veem a estação seca chegar com apenas metade da água que havia ali um ano antes.
Isso depois de 83% da população ter reduzido o consumo e a produção metropolitana de água pela Sabesp ter caído quase 30%, de 70 mil para 50 mil litros por segundo.
Nessas condições, soa alarmante o anunciado atraso de ao menos três meses na principal providência do governo Geraldo Alckmin (PSDB) em 2015 para mitigar a crise.
A interligação do braço Rio Grande (represa Billings) com o sistema Alto Tietê, por meio de 11 km de tubulações, viria transportar 4.000 litros por segundo ao manancial e tornar mais flexível o gerenciamento dos seis subsistemas metropolitanos.
A obra de R$ 130 milhões ficará pronta em agosto ou setembro, reconheceu o governador tucano no seu lançamento, nesta segunda-feira (4). A previsão inicial era de concluí-la até o término de maio, mas a licença ambiental da Cetesb –uma empresa do governo estadual, como a Sabesp– só foi concedida no último dia de abril.
Outras iniciativas para melhorar o abastecimento no Estado envolvem prazos bem mais dilatados. O sistema produtor São Lourenço, para agregar 4.700 litros por segundo à capacidade de produção, com investimento de R$ 2,21 bilhões por uma parceria público-privada, entra em operação apenas em outubro de 2017.
Também está nos planos construir, na melhor das hipóteses terminando em 2018, duas represas na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) para abastecer a região de Campinas. A cidade de 1,15 milhão de habitantes atualmente depende da captação direta no rio Atibaia.
A bacia PCJ é uma das mais exigidas do Estado. Além de ceder águas para o sistema Cantareira, tem demanda alta por causa de indústrias e usinas –basta dizer que oito delas têm direito a utilizar o dobro do recurso hídrico que se destina à população de Campinas.
Há muito o que reorganizar no fornecimento de água no Estado, já se vê. A crise vivida pelos paulistas –que não foi embora e não irá tão cedo– ao menos tem servido para tornar mais transparente a escassez desse recurso essencial.
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