JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
Olha a onça
SÃO PAULO - Impressiona a criatividade de Fernando Haddad em seu esporte preferido à frente da prefeitura paulistana, que é cutucar a onça com vara curta. O bicho, que atende pelo nome de classe média, está por toda a cidade e vocifera à mínima menção ao prefeito.
Candidato não declarado à reeleição, Haddad agora se prepara para baixar a velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, as principais artérias da metrópole infartada. Nada que já não aconteça várias vezes ao dia devido ao trânsito, mas provável penitência para quem pega as vias fora do horário do rush.
A redução de 20 km/h não é gratuita nem ato isolado da administração. Grandes avenidas e até zonas residenciais já vêm sendo "acalmadas" com limites de até 40 km/h e, evidentemente, radares e multas.
A ideia, absurdamente simples, é baixar a velocidade média dos veículos, permitindo mais tempo de reação a motoristas e freios. Em voga no mundo civilizado, a prática tende a diminuir o número de acidentes e principalmente a gravidade das ocorrências. Há inclusive sistemas inteligentes, que alteram as placas de velocidade de acordo com as circunstâncias da pista e do clima.
Como nos casos dos corredores e das ciclovias, é difícil condenar a boa intenção da prefeitura. Se o número de veículos cresce, é imperativo que cresçam também as restrições. Sobra para a onça, então, rosnar contra o modo como as mudanças são implementadas. E a prefeitura quase sempre enche o bicho de raiva, pois as novidades demonstram improviso e falta de planejamento. Ontem, por exemplo, um diretor da CET explicou nesta Folha que as ciclovias na periferia se degeneram mais rapidamente porque chegam antes de outras melhorias de infraestrutura nos bairros. Não seria mais produtivo fazer as coisas na ordem, melhorar a infraestrutura antes da ciclovia?
São Paulo precisa ordenar seu caos. E a prefeitura também, pois onça não obedece ordens.
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