PAULO FELDMANN
O empreendedorismo é a saída
Cerca de 3,5 milhões de trabalhadores já perderam seus empregos no Brasil só neste ano. Desemprego é um dos maiores problemas de qualquer nação, principalmente em um momento de extrema dificuldade econômica, recessão persistente e conturbação política.
Não se pode imaginar que esse enorme contingente poderá ser novamente absorvido pelo mercado, principalmente considerando o cenário projetado para a economia do país até 2017. Geração de novos empregos no Brasil ainda é algo remoto e não pode ser considerada nos próximos dois anos, pelo menos.
O que fazer? Transformar essa massa de desempregados em pequenos empreendedores. Esse caminho está sendo trilhado por inúmeros países, diga-se de passagem, com muito sucesso. A Espanha, depois de uma de suas piores crises, pós-2008, começou a se erguer com base em programas de forte apoio ao pequeno empreendedorismo.
Claro que isso não será fácil em um país como o nosso, que nunca deu muita atenção a esse segmento. Basta dizer que enquanto na maioria dos países europeus a pequena empresa é responsável por mais da metade do PIB –ultrapassando os 60 % na Alemanha e na Itália– no Brasil elas ainda não respondem nem por 28% do PIB, apesar de as pequenas e microempresas, em número, sejam 99% do total de empresas existentes.
Ao contrário do que ocorre nos países europeus, o Brasil não possui políticas públicas que façam com que as pequenas possam enfrentar as empresas maiores. O que temos são programas como o Simples, que consagra o que se espera da pequena empresa: que ela seja satélite da grande.
Na Itália e na Alemanha, por exemplo, as pequenas são estimuladas a participar de consórcios que chegam a reunir mais de 200 empresas cada e, com isso, criam a massa crítica e a economia de escala necessária para enfrentar as grandes em pé de igualdade. A Itália é o país da pequena empresa. Uma das razões é que os jovens aprendem no ensino médio rudimentos de gestão e empreendedorismo.
O Brasil está tão atrasado nesses aspectos que os bancos por aqui ainda não oferecem microcrédito para quem se candidata a ser empreendedor. Microcrédito no Brasil continua sendo um produto no qual o setor financeiro busca ter um grande retorno, mas não é assim nem em outros países latino-americanos.
Na Colômbia e na Bolívia, o microcrédito é visto com um meio que permite ao desempregado fazer um investimento que possa ser pago em mais de dez anos e, muitas vezes, sem juros. Com isso, o desempregado pode comprar uma máquina de costura, uma prensa ou um computador e se transformar em um pequeno empreendedor.
Na Olimpíada de 2012, em Londres, o governo local determinou que a maior parte das contratações de serviços e obras fosse feita com pequenas empresas. Foi um sucesso. Por que não fizemos o mesmo com as demandas dos Jogos do Rio?
Não precisamos inventar a roda, pois soluções existem e já foram testadas. O que falta é vontade política para definir que a pequena empresa e o empreendedorismo serão prioridades em nosso país. Os desempregados agradecem.
PAULO FELDMANN, 66, é professor da USP e diretor da Alampyme - Associação Latino Americana de Pequenas e Micro Empresas
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