CRISTINA TARDÁGUILA
Combater as notícias falsas
Se a mentira tem um dia só para ela, a verdade também merecia um, ao menos um. E foi guiada por essa certeza que a International Fact-Checking Network (IFCN), rede mundial de plataformas que checam o grau de veracidade de dados e informações contidos em discursos públicos, transformou o dia 2 de abril de 2017 no primeiro Dia Internacional do Fact-Checking.
É a luta contra a notícia falsa entrando no calendário global e ganhando uma data especial.
Nos últimos anos, a divulgação de informações não verificadas espalhou pânico em comunidades carentes e em bairros ricos do Rio de Janeiro mais de uma vez e embasou teorias conspiratórias na área da saúde que poderiam ter prejudicado milhares de cidadãos.
No mundo, não foi diferente. Uma falsa vacina contra a Aids provocou alvoroço no Gabão. No Canadá, um professor que jamais havia pisado em Nice, na França, foi acusado de ter cometido o atentado de 14 de julho, com um caminhão.
Nos Estados Unidos, o homem que, segundo levantamento do "Huffington Post", foi capaz de pronunciar 71 informações questionáveis em apenas 60 minutos virou presidente.
É hora, portanto, de o cidadão saber que notícias falsas dão (muito) dinheiro a seus criadores -como bem revelou reportagem publicada no caderno "Ilustríssima". Também é hora de ficar claro que existem técnicas simples e eficientes para fazer frente a essa praga.
Há cinco dicas básicas, bem básicas, dos checadores a serem seguidas por aqueles que defendem informação de boa qualidade. A primeira é: duvide de quem cita dados sem revelar fontes. É fácil manipular uma informação agindo assim.
A segunda dica: duvide daqueles que promovem uma relação causal simples, dizendo que A provoca B. Há sempre diversos fatores envolvidos na concretização de um fato.
Terceira: desconfie de números absolutos sem contexto. Ir de 1 para 2 é um aumento de 100%. Dependendo do assunto, porém, trata-se de algo irrelevante. Peça porcentagens e valores absolutos.
Quarta: cuidado com as cifras muito exatas sobre temas como violência. Esses dados mudam a cada instante e nem sempre são computados a partir da mesma metodologia.
Quinta: por fim, suspeite de frases que contenham expressões como "a maior/menor/melhor/pior do mundo". Todas tendem ao exagero.
Temos hoje 114 plataformas de checagem ativas no mundo. Dez delas acabam de passar por uma auditoria externa independente e receber o selo de qualidade da IFCN.
Segundo os auditores, são iniciativas comprovadamente apartidárias, que prezam pela transparência e pela metodologia de trabalho, além de ostentar política pública efetiva para a correção de eventuais erros.
Fazer checagem está na moda, mas uma checagem só tem credibilidade quando atende a essas cinco exigências. Fique de olho.
Ainda vale destacar que redes internacionais de especialistas de diversas áreas estudam formas de combater a desinformação.
O First Draft News e o Trust Project são exemplos que aproximam jornalistas, veículos de comunicação e empresas digitais.
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O site www.factcheckingday.com traz um calendário de atividades relacionadas à checagem de dados. Quem está cansado de ler ou ouvir mentira deve conferir as oportunidades que serão oferecidas aqui e ali. Novos checadores são bem-vindos.
CRISTINA TARDÁGUILA é diretora da Agência Lupa e autora do livro "A Arte do Descaso" (Intrínseca)
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