Marco Antonio Carvalho Teixeira
Saldo do 1º ano do governo Temer é positivo? NÃO
UMA PONTE PARA O PASSADO
A deterioração da economia brasileira e os desdobramentos dos escândalos de corrupção em governos petistas impulsionaram o impeachment de Dilma Rousseff e levaram Michel Temer à Presidência.
Esperava-se que o governo peemedebista, após as mobilizações, considerasse como critério norteador na formação da base de apoio no Congresso questões como a reputação da equipe ministerial e o interesse público.
Após um ano, mesmo sob uma economia que parou de piorar sem apresentar sinais claros de recuperação, o governo do PMDB tem um enorme débito social por manter relações políticas avessas ao republicanismo e permitir recuos que colocam em risco políticas de proteção ambiental e indígenas.
Com o desafio de aprovar as reformas trabalhista e da Previdência, Temer se movimenta em direções que conflitam com as expectativas de parcela da sociedade que apoiou o impeachment, entre outros motivos, por discordar da forma com que Lula e Dilma mantinham suas coalizões governamentais.
Ao formar um ministério com alguns quadros que já figuravam em denúncias na Lava Jato e em outros escândalos, peemedebistas e aliados negligenciaram a importância da reputação no contexto pós-Dilma e, provavelmente, apostaram que a retomada da economia, de forma isolada, alavancaria a popularidade de Temer.
Subestimaram o peso dos escândalos de corrupção na avaliação negativa das autoridades públicas. A derrota do PT nas eleições de 2016 ainda não serviu como referência.
A ideia de que a população avalia positivamente um governo apenas pela taxa de bem-estar social, sem considerar sua probidade, sobreviveu ao mensalão com a reeleição de Lula e as vitórias de Dilma, mas o contexto agora é outro.
A real política tem feito com que Temer ceda aos pleitos de partidos e grupos que condicionam o apoio parlamentar ao tamanho do espaço que ocupam na máquina governamental, algo que já provocou colisão com setores do PMDB e gerou crises com outras legendas.
Mesmo com índices de reprovação popular acima de 2/3 dos brasileiros, a velha estratégia mostrou-se exitosa: o governo tem mantido o apoio de cerca 80% dos congressistas, o que permitiu aprovar a PEC do teto de gastos e poderá garantir o mesmo êxito às reformas trabalhista e previdenciária.
Priorizando o diálogo com o Congresso, o governo passa a impressão de ignorar as demandas de segmentos específicos ou de minorias. O mal-estar com grupos indígenas e movimentos ambientais, por exemplo, revela um visão reduzida de democracia.
No momento em que a sociedade busca algo novo na política e que suas tradicionais lideranças passam por um processo de desgaste que aparenta ser irreversível, o governo que supostamente combateria a velha politicagem oferece o cardápio arcaico de sempre: o "toma lá, dá cá" como prática cotidiana para garantir a lealdade de seus aliados.
No ambiente político, o saldo é negativo. Em vez de redimir a classe, a insistência no passado pode gerar reações inesperadas nas urnas em 2018.
MARCO ANTONIO CARVALHO TEIXEIRA, doutor em ciências sociais pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), é professor do curso de administração pública da Fundação Getulio Vargas de São Paulo
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