Risco acima de zero
Wong Maye-E, Pablo Martinez Monsivais/Associated Press | ||
O ditador norte-coreano, Kim Jong-Un, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump |
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou valer-se de "fogo e fúria contra a Coreia do Norte. O regime de Kim Jong-un, por sua vez, respondeu que considera atacar Guam, território americano no Pacífico com expressiva presença de militares, com "fogo envolvente".
Apesar da retórica inflamada, pode-se presumir que nenhum dos lados deseje o conflito.
Embora com perspectivas mais óbvias de vitória numa eventual guerra, o líder republicano tem ciência de que a mera possibilidade de uso de armas nucleares teria consequências desastrosas para seu país e o mundo.
Da mesma maneira, o ditador norte-coreano por certo não desconhece que um confronto com os EUA equivale a suicídio.
Ainda assim, é palpável o risco de que discursos e decisões mal calculadas levem a situações que não comportem recuo, com resultados trágicos não buscados por nenhuma das partes.
Essa lógica de armadilhas autoinfligidas deu ensejo à Primeira Guerra Mundial, em 1914, e quase ocasionou um conflito armado, em 1962, entre EUA e União Soviética.
Parece claro que Pyongyang domina a tecnologia da bomba e de mísseis de médio alcance —muito provavelmente, os de longo também. São fortes os indícios de que já teria sanado o ponto que faltava para a plena capacidade nuclear: o desenvolvimento de ogivas pequenas e leves o bastante para ser transportadas pelos mísseis.
Não sobram aos EUA, portanto, maiores opções para impedir a Coreia do Norte de se tornar um Estado nuclear. Alternativas militares, como tentar destruir as instalações atômicas ou derrubar o regime, são ao mesmo tempo arriscadas e de altíssimo custo político.
Kim Jong-un teria tempo, provavelmente, para reagir a um ataque americano, disparando contra a vizinha Coreia do Sul.
A atitude mais sábia nas atuais circunstâncias será tentar estabelecer algum "modus vivendi" com os norte-coreanos. Trump deve dar sinais claros e críveis de que os EUA não serão os primeiros a atacar, mas não tolerarão nenhuma investida contra seu território ou contra algum de seus aliados.
Para evitar uma corrida nuclear na região, também é importante assegurar a proteção da Coreia do Sul e do Japão, assim como tentar convencer a China, único aliado de Kim Jong-un, a moderar os arroubos do ditador.
Resta o alento de que, embora nada confiável, o regime norte-coreano até hoje nunca deixou de agir racionalmente no jogo nuclear.
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