Nas asas do Estado
Acervo Infraero | ||
Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro |
Se no campo ideológico parece haver menor recusa às privatizações, obstáculos mais mundanos persistem. Além das complexidades da regulação de cada setor envolvido, outro fator crucial para atrasos e recuos continua a ser a oposição do mundo político.
Um dos casos mais notáveis é o da Infraero, estatal responsável pela administração dos aeroportos.
Mesmo obsoleta e ineficiente, a empresa teve seu protagonismo assegurado no ciclo de concessões da gestão Dilma Rousseff (PT). Por insistência da então presidente, ficou com 49% do capital dos consórcios que arremataram ativos importantes, como Galeão e Viracopos.
O primeiro foi concedido em 2013 a um consórcio liderado pela Odebrecht, que pagou R$ 19 bilhões. Falho desde o início, o empreendimento se tornou insustentável depois que a Lava Jato expôs a atividade criminosa da construtora.
Em julho deste ano chegou-se a um entendimento para a venda da participação da empresa ao grupo chinês HNA Infrastructure. Ocorre que o acordo depende de investimento de R$ 1,5 bilhão da Infraero, que resiste em fazê-lo com o argumento de que, segundo sua análise, haverá prejuízo no negócio.
Em que pese o aspecto técnico, há sinais de que fatores menos nobres emperram as tratativas. A estatal aeroportuária sofre forte influência do PR, partido que tem a ganhar com a presença estatal no setor –um impasse no caso do Galeão poderia reverter a privatização.
Indícios dessa nefasta motivação já eram visíveis em outubro, quando o governo federal retirou o aeroporto de Congonhas da lista dos próximos a serem concedidos.
A decisão veio pouco antes da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) na Câmara dos Deputados, em troca dos votos do PR para barrar o avanço do processo.
A venda da Eletrobras também enfrenta expressiva resistência no Congresso. Reconheça-se que há razões para cautela: a transação é cercada de dúvidas quanto à regulação do setor energético.
Infelizmente, contudo, grande parte das objeções é motivada pelo mero interesse de preservar cargos e poder. Justamente por isso, a privatização, com preço correto e modelo que assegure o maior benefício para a coletividade, mostra-se o melhor caminho.
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