O ano acabou; a força-tarefa pela reforma da Previdência continua
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
O presidente Michel Temer em reunião com líderes empresariais para tratar da reforma da Previdência |
De nada adiantou falar, explicar e desenhar: o Congresso Nacional não entendeu que o presente e futuro do país estão em suas mãos e que a atitude é urgente.
A discussão em torno da reforma da Previdência se tornou um embate entre esquerda e direita, governo e oposição, bem e mal. O problema é que quem sai perdendo não é apenas um dos lados dessa visão maniqueísta. Quem perde é o Brasil.
É absurdo observar o show de falácias dos opositores à reforma, distorcendo fatos e publicando inverdades, claramente se aproveitando da fé popular em suas "boas intenções". É também indignante observar uma dissidência na base do governo, que não contribui e até atrapalha os que que lideram essa empreitada.
Vimos indecisão rasa e desconhecimento da proposta. Vimos cálculos de custo político, mas sem considerar que é o eleitor que depois pagará a conta. Lamentável.
Quando nós, organizações da sociedade civil e especialistas, somamos esforços em prol de uma causa, significa que uma parte da sociedade responsável e entendedora se importa, quer transformar compreensão em ação.
Ao decidirmos olhar para a reforma da Previdência com a preocupação de quem vive um país que já sofre com a falta de investimentos em saúde, educação e segurança, nós o fizemos porque precisamos garantir às gerações futuras um país em que existam garantias fundamentais asseguradas, em que haja justiça social, e para que essas mesmas gerações não precisem tomar medidas mais drásticas do que as atualmente propostas.
O deficit existe, não é uma verdade fabricada. Só no ano passado, de acordo com dados do TCU, ele foi de R$ 180 bilhões, e as perspectivas de aumento são terríveis. A média de aposentadoria de um servidor público é de R$ 9.000,00, enquanto a que de um trabalhador da iniciativa privada é de R$ 1.600,00 —isso é desigualdade.
A pirâmide etária logo menos se inverterá; se hoje temos 16,5 milhões de idosos, em 2040 eles serão 40 milhões, e teremos mais aposentados do que contribuintes. A conta não vai fechar.
O encerramento do ano legislativo não deu fim a essa realidade. Ela persiste e insiste em piorar a cada dia em que nada se faz a respeito.
Por isso e pela responsabilidade que carregamos como brasileiros é que insistimos que essa luta não acabou. Ainda estamos aqui, e estaremos em fevereiro de 2018 quando a reforma for colocada em pauta.
Não descansaremos até que essa aprovação seja conquistada, até que cada parlamentar esteja ciente de que um voto contra a reforma da Previdência é um voto contra o Brasil.
Representamos diferentes segmentos da sociedade, mas compartilhamos a profunda preocupação de que as futuras gerações podem herdar um país em piores condições. Juntos, ainda que com perspectivas distintas, acreditamos que uma reforma no sistema da Previdência seja o caminho para o desenvolvimento sustentável do país.
Estamos munidos da convicção de que a mobilização da sociedade a favor da reforma é a única maneira de se iniciar um ano eleitoral —um ano que nos traz a perspectiva de mudanças e renovação.
Esperamos que o Congresso Nacional compreenda que pode escolher entre fazer parte do novo ou se apegar ao passado. E que, se optar pelo passado, que nele fique.
LUANA TAVARES é diretora-executiva do Centro de Liderança Pública
GUILHERME AFIF DOMINGOS é presidente nacional do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)
ANTÔNIO CARLOS PIPPONZI é presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV)
Subscrevem este artigo:
CLÁUDIO GASTAL - presidente-executivo do Movimento Brasil Competitivo
JOSÉ CECHIN - engenheiro e economista, é ex-ministro da Previdência (2002-2003, governo FHC)
GESNER OLIVEIRA - economista, sócio da GO Associados e professor da FGV, é ex-presidente da Sabesp (2007-2010, governo Serra)
PIERRE MOREAU - sócio do Moreau Advogados e membro do conselho do Insper Direito
HUGO BETHLEM - diretor-geral do Instituto Capitalismo Consciente
MARCOS GOUVEA - diretor-geral da Gouvêa de Souza e conselheiro do IDV
JOSÉ MÁRCIO CAMARGO - professor do Departamento de Economia da PUC-Rio
MATEUS BANDEIRA - ex-secretário do Planejamento, ex-presidente do Banrisul e da Falconi, é conselheiro no Banco Pan
PAULO SOLMUCCI JR. - presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes)
PRISCILA PEREIRA PINTO - presidente do Instituto Millenium
CAIO PORTUGAL - presidente da Aelo (Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano)
GEORGE PINHEIRO - presidente da Cacb (Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil)
JOÃO ROBERTO G. TEIXEIRA - economista
PEDRO DE CAMARGO NETO - ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira e da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) e consultor
JUAN JENSEN - economista, atua como consultor e professor no Insper
MARINA CANÇADO - coordenadora-executiva do GBM (Geração Brasil Melhor)
LEONARDO ROLIM GUIMARÃES - Ex-secretário da Previdência e consultor de Orçamento da Câmara dos Deputados
FLÁVIO AMARY - presidente do Secovi/SP (Sindicato da Habitação)
PARTICIPAÇÃO
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