Descrição de chapéu

Um ano com Trump

Crédito: Manuel Balce Ceneta/Associated Press President Donald Trump walks to the podium to address participants of the annual March for Life event, in the Rose Garden of the White House in Washington, Friday, Jan. 19, 2018. (AP Photo/Manuel Balce Ceneta) ORG XMIT: WHMC103
O presidente americano Donald Trump na Casa Branca

DE SÃO PAULO

Há um ano, sob um misto de choque e de apreensão, o mundo assistia à chegada de Donald Trump à Casa Branca. Temia-se, então, uma onda de instabilidade em decorrência de suas promessas de campanha, que se afiguravam radicais e perturbadoras.

Os prognósticos mais catastrofistas não se confirmaram, ao menos por ora, mas é certo que o novo mandatário conseguiu diminuir a instituição da Presidência dos EUA.

Trump levou para o cargo todos os aspectos mais recrimináveis do candidato. A incontinência verbal via redes sociais; o temperamento intempestivo para com os assessores mais próximos; o pouco decoro no trato com outros líderes; e o desprezo à imprensa livre. Tudo isso conflui para que se veja nele uma figura inadequada à função.

É imperioso reconhecer, porém, sua capacidade de dialogar com uma parcela da população que não se sentia atendida pelo antecessor, Barack Obama, nem atraída pela postulante democrata, Hillary Clinton. Uma vez eleito, o republicano fez o possível para realizar o que seduzira seu eleitorado.

Como havia prometido, abandonou o Acordo de Paris para o clima e o pacto comercial da Parceria Transpacífico, sempre sob a ótica de que estaria em defesa de seu lema "a América primeiro".

No plano interno, afagou seu público com desregulamentações e uma reforma tributária que cortou impostos de empresas. Aproveita também para faturar a firme recuperação econômica do país, ainda que tenha sua origem no período de Obama.

Por outro lado, a imagem de empresário hábil esmaeceu diante do pouco avanço em temas dependentes da aprovação do Congresso -cujas duas Casas, diga-se, contam com maioria republicana.

Foi assim com o naufrágio de sua cruzada para extinguir o Obamacare (programa de saúde pública universal) e com o plano do muro na fronteira com o México, que não obteve financiamento.

Além de se sujeitar ao sistema de freios e contrapesos de uma democracia robusta como a americana, Trump teve de se render ao pragmatismo em certas situações.

Por não poder prescindir do peso da China na contenda nuclear com a Coreia do Norte, por exemplo, parece ter arquivado bravatas como a imposição de uma taxa de 45% na importação de todos os produtos chineses.

O ano que se inicia pode lhe reservar mais dificuldades com o Legislativo, em novembro, com as chamadas eleições de meio de mandato. Há a possibilidade de os democratas retomarem o controle da Câmara, o que atravancaria de vez projetos polêmicos.

Além disso, a investigação do FBI sobre a suspeita de conluio entre a Rússia e a campanha republicana continuará a ser uma ameaça ao presidente.
Trump não foi a bomba que se esperava explodir, mas em um ano impôs um padrão de truculência política e comportamental que poucos imaginariam ver dentro da Casa Branca.

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