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Devagar com Davos

Crédito: Fabrice Coffrini/AFP O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos

Do fórum de Davos, na Suíça, emitiram-se sinais inequívocos de otimismo. Quiçá inebriados pelo momento global de recuperação econômica, os líderes participantes, em sua maioria, gabaram-se dos indicadores positivos de seus países. Salvo poucas vozes dissonantes, restou a impressão de que tudo caminha no rumo certo.

Exemplo mais bem acabado de que a reunião da elite mundial serviu de palanque se deu com o presidente Donald Trump. Disse tratar-se da hora de investir nos EUA e destacou sua recente decisão, cara ao mercado, de reduzir a taxação sobre lucros de empresas.

A despeito do terreno em tese adverso –a relação com a Europa tem sido mais de baixos que de altos–, desta vez a mensagem do líder americano foi acolhida com bastante simpatia. Aliás, não se via um chefe da Casa Branca em Davos desde Bill Clinton, em 2000.

Amparados por uma retomada da economia, ainda que repleta de percalços, governantes de menor calibre, como Michel Temer e Mauricio Macri, também tentaram convencer os grandes investidores.

O clima de entusiasmo, entretanto, turvou algumas questões de fundo. Para os mais crédulos, Trump acenou ao multilateralismo quando afirmou estar disposto a fazer comércio com os países da Parceria Transpacífico –acordo com o qual rompeu em 2017.

"Podemos negociar bilateralmente ou em grupo, mas temos que rever as regras", declarou. A ressalva de só entrar no jogo se o regulamento lhe convier, na prática, remete ao casulo do "América em primeiro lugar".

Coube outra vez aos principais dirigentes europeus fazer o contraponto, recomendando cautela.

Tanto a chanceler alemã Angela Merkel quanto o presidente francês Emmanuel Macron reconheceram a crise da globalização, em especial no seu continente, e relembraram os riscos das vias enganosamente mais rápidas do protecionismo e do nacionalismo para sanar os problemas.

Tome-se o caso do "brexit", em que um sentimento patriótico difuso pôs o Reino Unido sob a incerteza de qual caminho seguir diante do voto para deixar a União Europeia. O desgastante processo, em que subjaz certo arrependimento britânico, só tem trazido prejuízos para ambos os lados.

Não se concebeu Davos como um espaço para solucionar desequilíbrios na economia mundial, mas de lá se pode apreender para qual direção olham os atores-chave. E a conjuntura positiva pode levar à errônea percepção de que correções de rota não são necessárias.

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