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Paulo Abrão

Democratas do mundo inteiro estão atentos ao que ocorre na eleição brasileira

Apoio internacional à democracia no país é fundamental neste momento

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Paulo Abrão

Diretor-executivo do WBO (Washington Brasil Office), centro de estudo que se dedica a promover cooperação e conhecimento sobre a realidade brasileira

Há um risco real de que o presidente Jair Bolsonaro impeça a consumação das eleições presidenciais. A ameaça vem sendo reiterada, embora não se saiba ao certo se haverá questionamento às urnas, se ele vai obter decisões favoráveis de juízes locais que atuem para impugnar atas, se vai impedir a conclusão da contagem, se vai investir em atos de violência ou qualquer outro meio.

O importante é evitar que isso ocorra e garantir que o país tenha mais uma eleição limpa e transparente, crucial para a consolidação da democracia e para a paz, como é do interesse da maioria esmagadora da população brasileira.

O respeito ao processo eleitoral não é de interesse da esquerda ou da direita, de um ou de outro candidato; é de interesse de todos, o mínimo indispensável para que o país siga funcionando e não se transforme num párea internacional.

O presidente Jair Bolsonaro lança sua candidatura à reeleição durante a Convenção Nacional do Partido Liberal, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli

A erosão da democracia no Brasil vem de longa data e inclui não apenas a disseminação de notícias falsas e de acusações infundadas sobre as urnas e sobre os juízes encarregados da supervisão do processo na Justiça Eleitoral.

Ela se manifesta nos 125 assassinatos e atentados, 85 ameaças, 33 agressões, 59 ofensas, 21 invasões e 4 casos de prisão ou tentativa de detenção de agentes políticos, pré-candidatos, candidatos ou eleitos, em dados registrados entre 2016 e 2020 por uma pesquisa conjunta da Terra de Direitos e da Justiça Global.

Ela se estende pelos inúmeros ataques aos povos indígenas, aos defensores de direitos, à imprensa, à comunidade LGBTQIA+ e a tantos outros grupos com os quais o atual governo brasileiro mantém um antagonismo violento, permanente e incessante.

Não há uma ação que, sozinha, seja capaz de barrar isso. É preciso que haja ações conjuntas e robustas. E não podem estar circunscritas apenas ao Brasil. O apoio internacional é fundamental, pois esta é uma eleição que interessa ao mundo todo.

O atual governo brasileiro internacionalizou sua campanha de desprestígio do próprio sistema eleitoral. O ápice dessa campanha foi o pronunciamento que Jair Bolsonaro fez em 18 de julho a uma plateia incrédula de representantes de missões diplomáticas estrangeiras, em Brasília.

Para fazer frente a isso, um grupo de 18 organizações da sociedade civil brasileira estará em Washington, até sexta-feira (29/7), para se encontrar com representantes do Departamento de Estado americano, da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, com o presidente do Senado americano e com um dos membros da Comissão Parlamentar que investiga a invasão ao Capitólio, ocorrida em 6 de janeiro de 2021. Também organizações da sociedade civil local estarão com essa grande comitiva brasileira.

As autoridades americanas passaram por um trauma com os atos de Donald Trump contra a democracia. Há, portanto, um interesse mútuo em trocar experiências e em fortalecer o campo democrático para evitar que qualquer um no Brasil tente copiar essa tragédia americana nas próximas eleições.

Os EUA não têm qualquer papel de ingerência sobre a democracia brasileira —e não é isso o que as organizações brasileiras reivindicam. Todavia, não podemos ignorar o quanto o mundo está interconectado.

Todos os países e líderes internacionais estão atentos ao que ocorrerá na eleição brasileira, pois este é um evento que, sem dúvida, provocará ecos que impactarão o destino de muitas democracias contemporâneas.

O interesse e a interdependência são reais. Os adversários da democracia sabem disso. Os democratas do mundo todo têm a chance de, agora, dar a prova de que, juntos, são capazes de fazer muito melhor.

A comitiva brasileira é composta por representantes das seguintes organizações: Washington Brazil Office, Comissão Arns, Pacto pela Democracia, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB, Artigo 19, Instituto Marielle Franco, Geledés - Instituto da Mulher Negra, Greenpeace Brasil, Instituto Vladimir Herzog, Instituto de Referência Negra Peregum, ABGLT, Conectas, 342 Artes/342 Amazônia, Instituto Clima e Sociedade, Transparência Internacional Brasil, Uneafro, Nave e Conaq.


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