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08/06/2009 - 02h30

Aviões, Petrobras, Trem-bala, Greve na USP, Educação

da Folha Online

Aviões

"É pura cortina de fumaça o barulho que a Air France está promovendo a respeito da experiência e dos milhares de horas de voo do comandante do voo AF 447. Quem conhece um pouco sobre a aviação comercial sabe que, quatro horas após a decolagem de um voo transatlântico noturno, com a aeronave estabilizada em altitude e velocidade de cruzeiro, o comandante muito provavelmente estará dormindo no compartimento reservado para essa finalidade. Não deve ter sido diferente no AF 447 e é bem possível uma tempestade de atividade extraordinária tenha se combinado com alguma falha da máquina para produzir uma emergência muito além da competência dos dois jovens e relativamente inexperientes copilotos, aos quais estava entregue a responsabilidade pelo A330 naquele momento. Por que a imprensa não se discute seriamente essa possibilidade? Ou alguém acha que o governo francês, principal acionista da Air France e um dos maiores da Airbus, e a quem curiosamente foi delegada a investigação deste acidente, vai se interessar por um assunto tão delicado assim? A investigação do acidente pelo governo francês é caso clássico de raposa cuidando do galinheiro."

ANTONIO SÉRGIO C. SALLES (Rio de Janeiro, RJ)

*

"Oportunos e muito bons os artigos deste sábado na Folha sobre o medo de viajar em avião. Entretanto não se fala sobre o único argumento racional para esse medo: mesmo que as estatísticas comprovem que morre muito mais gente de carro do que de avião, todos sabem que, em caso de pane, o automóvel só precisa parar no acostamento. Certamente é isso que justifica tantas páginas dedicadas a acidentes aéreos e tão poucas aos milhares que morrem nas estradas, para não falar dos muitos que continuam morrendo de uma forma tão medieval quanto a picada do mosquito transmissor da dengue. No Brasil, tenho muito mais medo desse mosquito e dos carros nas mãos dos nossos alegres bêbados."

ANDRÉ LUIZ S. DOS SANTOS (São Paulo, SP)

*

"Todos os dias provavelmente morrem no Brasil mais de 200 pessoas vítimas de estradas malconservadas e mal fiscalizadas. Se a preocupação com estas vítimas fosse nivelada com a preocupação com as da tragédia do voo 447, talvez tivéssemos menos a lamentar. Acorda Brasil!"

JOÃO ISRAEL NEIVA (Belo Horizonte, MG)

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"Parabéns pelo 'Tendências/Debates' de sábado. Ronnie Von foi no ponto fulcral: morrem mais pessoas por outras causas do que por desastres de avião. É o meio de transportes mais seguro que existe."

NELI APARECIDA DE FARIA (São Paulo, SP)

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Petrobras

"Se a oposição não sabe por onde começar a investigação na Petrobras, o artigo publicado na Folha de 6/6 sob o título 'Petrobras contrata ONG por R$ 16,1 mi' mostra o caminho. A ONG MBC (Movimento Brasil Competitivo), cujos conselheiros e representantes do governo são José Sergio Gabrielli (presidente da Petrobras), Dilma Rousseff (ministra da Casa Civil), Sergio Rezende (ministro da Ciência e Tecnologia), Miguel Jorge (Desenvolvimento) e Paulo Bernardo (Planejamento). Segundo o diretor-presidente do MBC, Claudio Gastal, é importante a presença do governo nas decisões. Dilma nunca compareceu, de acordo com sua assessoria, e Gabrielli indica alguém para substituí-lo. A Petrobras não vê conflito de interesses em patrocinar uma entidade que tem o presidente da estatal entre os seus conselheiros, mesmo tendo sido ela contratada sem licitação porque a lei dispensa tal procedimento. Quem fez essa lei? Os deputados e senadores assinaram sem ler? Ou estavam dormindo? Os investimentos da Petrobras em patrocínios passaram de R$ 300 milhões para cerca de R$ 600 milhões e o governo, e sua base ainda querem convencer a sociedade de que a CPI é apenas especulação? Basta de conversa mole, vamos ao que interessa: investigação na caixa-preta da Petrobras já!"

IZABEL AVALLONE (São Paulo, SP)

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Trem-bala

"Foi anunciado que o trem-bala brasileiro estará operante antes da Copa de 2014. As relações entre empreiteiras e políticos, refletidas em superfaturamentos, verbas para campanhas, licitações fraudulentas, barragens que não barram, pontes e estradas que se desfazem na chuva e pavor de CPI não apontam para a confirmação desse anúncio. Mas sem dúvida o trem-bola já deve estar se movendo, e vai acelerar muito."

MARCO ANTONIO BANDEIRA (São Paulo, SP)

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Greve na USP

"O editorial de 6/6 sobre a greve da USP está um pouco acalorado. Não há uma 'barafunda que pressupõe depredação de patrimônio público'. A presença da Polícia Militar tem o intuito de evitar as negociações. Ora, negociar com cacetetes nas mãos não é uma atitude autoritária? Por acaso a reitora se inspira em George W. Bush ou Hugo Chávez? Se isso acontecesse na Venezuela, o editorial seria igual? Além disso, ainda que a assembleia contenha menos professores, ela não é por isso menos representativa. Até reuniões de condomínios tomam decisões sem a presença de todos os moradores.
O ensino à distância, por si só, não é bom ou ruim. Apenas estudos sérios podem comprovar a eficácia desse dispositivo. Porém, antes de inseri-lo, é preciso sim que isso seja debatido com os profissionais que irão instituí-lo. Há perguntas básicas: Quais cursos? Quais conteúdos? Quais formas de avaliação? Para quem? Com que objetivo? Quanto tempo? É lamentável que o editorial traduza a Univesp simplesmente como acesso a 'mais estudantes, com renda abaixo da média dos alunos da universidade'. Será que instaurar um ensino à distância, às pressas, da noite para o dia, sem o respaldo pedagógico mínimo, não é simplesmente uma forma de aumentar números em detrimento da qualidade do ensino? A Folha se preocupa com a qualidade do ensino superior? Por acaso lutar contra isso é quixotismo? Porque, que eu saiba, lutar contra o autoritarismo abusivo e a decadência do ensino sempre esteve em acordo com os princípios desta Folha."

ARTUR CORTEZ MINCHILLO SILVEIRA (São Paulo, SP)

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Educação

"Em relação à dúvida da leitora cuja carta foi publicada na edição de ontem da Folha (7/6), a respeito de meu artigo, solicito a publicação desta resposta:
1) A formação de professores é tão necessária quanto a formação de qualquer profissional. Dizer o contrário seria contradizer o papel da educação;
2) O problema é que as condições de trabalho do cotidiano escolar destroem qualquer possibilidade de concretização de qualquer estudo por parte dos professores de educação básica. As pesquisas nacionais são fartas a respeito;
3) Os cursos universitários são absolutamente distantes do cotidiano escolar. Basta conferir as próprias teses sobre a questão, defendidas nas próprias universidades que estão de costas para esta realidade, criando um contraditório e interessante caso de esquizofrenia.
A formação de adultos possui peculiaridades que são desconsideradas nos cursos e programas voltados para a qualificação de professores. O conceito de formação em serviço foi desenvolvido por António Nóvoa a partir de pesquisas realizadas em toda Europa com professores de educação básica daquele continente, durante os anos 80 e 90 do século passado. Os estudos realizados revelaram que eventos, como seminários e palestras, tinham baixo impacto na mudança de práticas e mesmo na cristalização de percepção de carreira e identidade profissional. Em suma, até mesmo cursos de média duração constituíam-se em sensibilização para temas e desafios, mas não conseguiam definir uma prática adequada. As rotinas e desafios cotidianos em sala de aula corroíam, pouco a pouco, a sensibilização realizada no momento anterior.
Nóvoa estudou, ainda, as situações que geravam maior impacto na mudança de comportamento da prática profissional docente. Embora as respostas tivessem sido muito dispersas, as mais significativas tinham relação direta com a vida particular: divórcio e/ou nascimento de filhos. O que o autor compreendeu é que tais eventos pessoais geravam uma projeção direta sobre a vida acadêmica (futura) dos filhos (e sua própria) com o papel que desempenhava como professor na vida de seus alunos.
A formação em serviço passou a ser o desenho mais adequado, para o autor. Ao contrário de programas de formação com característica de eventos, a proposta passou a ser formação continuada (sem fim), mas baseada no espaço e na prática concreta de trabalho dos professores, procurando sistematizar problemas e dúvidas e, a partir daí, incluir estudos e reflexões. Aproximava-se, assim, das proposições de Paulo Freire, quando sugeria a construção da palavra geradora como norteadora do currículo, substituindo o tradicional currículo prescritivo, construído antes mesmo de se conhecer o perfil dos educandos.
No Brasil, tal sugestão gerou a constituição de grupos de estudos (ou Grupos de Formação) com encontros quinzenais (há inúmeros registros, como a desenvolvida por Sonia Cristina Fernandes, da UFSC, sobre a rede municipal de Florianópolis) em que os professores escrevem suas avaliações, seus registros ao longo dos encontros, suas observações, conclusões e estudos/leituras. A noção de formação passa a compreender os sentidos e significados da experiência concreta vivida, muitas vezes lançando mão da memória e dos valores de cada professor. Na prática, rompe-se com as tentativas de formação planejadas à distância pelos órgãos centrais da gestão de sistemas educacionais o que sugere a dicotomia entre teoria e prática educativas. E, finalmente, propõe-se a construção do olhar investigativo do professor, na perspectiva do fortalecimento do perfil professor-pesquisador. Alguns professores ilustram tal prática como o desenvolvimento de um 'olhar mais olhado'.
O que nos cansa a todos educadores e estudiosos do tema é que tais considerações são amplamente conhecidas no meio. Mas não surtem qualquer efeito prático na gestão educacional, que teima em reinventar a roda."

RUDÁ RICCI, doutor em ciências sociais (Belo Horizonte, MG)

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