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04/10/2012 - 03h15

Questões de Ordem: Sete peças no quebra-cabeça

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MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

É normal, em qualquer governo, que o chefe da Casa Civil se reúna com banqueiros e empresários. Que o ex-ministro José Dirceu se encontrasse, de vez em quando, com os proprietários do Banco Rural e os do BMG, eis algo que não teria nada de suspeito.

Todavia, não foi só isso o que aconteceu, disse o relator Joaquim Barbosa, ao iniciar um novo item das acusações do mensalão.

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Primeiro, porque nas reuniões de José Dirceu com esses banqueiros também se encontravam o publicitário Marcos Valério e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Segundo, porque inicialmente se negou a presença dessas pessoas, que não teriam nada a ver com assuntos normais de governo (e tudo a ver com o mensalão). Foi só depois dos depoimentos de Renilda Santiago, mulher de Marcos Valério, e da própria Kátia Rabello, presidente do Banco Rural, que a comprometedora presença de Marcos Valério e Delúbio foi admitida.

As defesas de Delúbio Soares e Marcos Valério tentaram inicialmente blindar o chefe da Casa Civil, negando ter havido qualquer encontro entre eles e José Dirceu. Depois de descobertas as distribuições de dinheiro e os encontros, Marcos Valério confessou ter participado de duas reuniões. Mais tarde, admitiu que esteve "em várias reuniões".

Terceiro ponto: a própria Kátia Rabello contou que foi graças a Marcos Valério que se tornou possível agendar seus encontros com o chefe da Casa Civil. Ele "foi um facilitador", declara ela nos autos.

Quarto: é muito esquisito imaginar que o assunto dessas reuniões com banqueiros, finalmente confessadas, fosse, por exemplo, a exploração de uma mina de nióbio. Por que não tratar disso com o ministério mais apropriado ao caso? E por que tratar de outro assunto, como a liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, com José Dirceu, graças à intermediação de Marcos Valério, e não com o Banco Central?

Quinto: quatro dias depois da reunião de José Dirceu com dirigentes do BMG, saiu o primeiro empréstimo do banco a Marcos Valério. Empréstimo fictício, como decidiu o Supremo em sessões anteriores. Empréstimo destinado, como também se viu, a disfarçar a remessa de recursos para os deputados da base governista.

Sexto: um dos deputados beneficiados pelo mensalão, José Borba (PMDB) declarou que era difícil, no começo do governo Lula, conseguir encontros com José Dirceu, para seus pleitos junto à administração federal. O jeito, ele conta, era procurar Marcos Valério... A troco de quê Borba mentiria nesse caso?

Nessa linha, argumenta Joaquim Barbosa, também não haveria nenhum motivo para que Renilda Santiago mentisse ao apontar os encontros de seu marido com José Dirceu.

Mais um ponto. Por que empresários portugueses precisariam de Marcos Valério para tratar de investimentos, se tinham acesso a Lula e Dirceu? Não seria mais lógico supor que só se encontraram com um obscuro empresário mineiro por saber que Valério representava o chefe da Casa Civil?

Talvez não seja a "torrente de provas" mencionada por Roberto Gurgel, procurador-geral da República. Mas as peças vão se encaixando neste "quebra-cabeças fático probatório", como disse Barbosa.

 

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