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Comissão tentará ouvir militares no caso Rubens Paiva
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DE BRASÍLIA
DE SÃO PAULO
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, disse ontem em Brasília que o órgão vai tentar localizar e ouvir dois militares do Rio de Janeiro cujos nomes aparecem em papéis sobre o deputado cassado Rubens Paiva, desaparecido desde 1971 após ser preso por agentes da ditadura militar (1964-1985).
Fonteles divulgou ontem texto de sua autoria em que analisa documentos sobre o caso Paiva encontrados durante suas pesquisas no Arquivo Nacional, em Brasília.
Documento desmente versão de fuga de Rubens Paiva, diz Comissão da Verdade
Documento inédito mostra como Rubens Paiva foi preso
Livro sobre Rubens Paiva deve ser lançado neste ano
Os papéis citam nomes de dois militares que, segundo Fonteles, tiveram contato com objetos e documentos do deputado: o major Belham, que teria recebido dois cadernos de anotações de Paiva, e o capitão Santabaia, que teria retirado os documentos do carro do político.
A Comissão da Verdade não tem poder para puni-los, mas, segundo Fonteles, vai trabalhar para localizá-los.
Para o presidente da Comissão, que ontem concedeu entrevista coletiva à imprensa, um informe confidencial, conforme a Folha antecipou na edição de ontem, desmonta a versão da fuga de Paiva e indica que ele morreu no prédio do DOI-Codi do Rio.
A versão divulgada pela ditadura foi a de que Paiva conseguiu escapar das mãos dos militares quando era levado para reconhecer um imóvel no Rio. "A versão oficial do Estado ditatorial militar era mentira", disse ontem Fonteles.
Ele chegou a essa conclusão após analisar o Informe nº 70, que detalha ao Serviço Nacional de Informações (SNI) como o ex-deputado foi localizado e preso.
O documento, com data de 25 de janeiro de 1971, não faz nenhuma menção à suposta fuga de Paiva, que, segundo o Exército, teria ocorrido três dias antes, na madrugada de 22 de janeiro daquele ano.
Para Fonteles, isso desmente a versão da fuga porque, se ela tivesse ocorrido, deveria ter sido mencionada no informe. "Tivesse acontecido, de verdade, 'a fuga', por óbvio, esse evento constaria desse pormenorizado registro", afirma Fonteles.
Também estão entre os documentos analisados pelo coordenador da Comissão da Verdade depoimentos de duas pessoas que tiveram contato com Paiva em seu cativeiro.
A primeira, Cecília Viveiros de Castro, era professora da escola onde filhas do deputado estudavam e foi presa junto com ele.
Fonteles também cita depoimento de Amilcar Lobo, tenente-médico do Exército que afirma ter atendido Paiva no DOI-Codi, na madrugada que antecedeu sua morte.
O relatório de Fonteles, contudo, não esclarece as duas principais dúvidas do caso Paiva: os autores do assassinato e o destino do corpo.
A Folha entrou em contato com o Comando do Exército, mas não obteve resposta até a conclusão desta reportagem. (MATHEUS LEITÃO, RUBENS VALENTE E PATRÍCIA BRITTO)
Editoria de arte/Folhapress | ||
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