Primeiro prefeito do PT, Gilson Menezes atribui vitória em 1982 à militância petista
O PT tinha pouco mais de um ano de formação quando colocou a militância nas ruas para a primeira campanha para eleger prefeitos e vereadores em todo o país. O ano era 1982, e em Diadema, na região metropolitana de São Paulo, o então ferramenteiro Gilson Menezes se tornava o primeiro prefeito eleito pelo PT.
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Hoje, quase 28 anos depois de sua primeira campanha pelo partido, Menezes atribui a vitória à militância petista, que, sem recursos, usava a criatividade para convencer os eleitores a votar nos candidatos do partido.
Rosane Marinho - 08.jun.1995/Folha Imagem |
Gilson Menezes se desfiliou do PT depois que terminou seu mandato em Diadema |
"Foi uma campanha difícil, sem condições estruturais. Ou seja, não tínhamos nada. Então vendíamos camisetas e broches do partido, fazíamos reuniões e mutirões com todos os candidatos a vereador. Foi uma campanha muito gostosa, com muita união e muita garra", afirmou Menezes, atual vice-prefeito de Diadema pelo PSC.
Ele recorda que, apesar do "espírito de luta" da militância, alguns líderes petistas não acreditavam na possibilidade de vencer a eleição em Diadema. Entre eles estava o então candidato a vice-prefeito, Paulo Afonso, que em uma conversa reservada com Menezes revelou que era impossível ganhar.
Segundo Menezes, Paulo Afonso estava convencido de que o PT até poderia ganhar a eleição, mas não deveria devido aos diversos problemas da cidade, que sofria com falta de infraestrutura e saneamento.
Em resposta ao companheiro, Menezes contou dos desafios que passou como imigrante nordestino e como líder sindical na época do regime militar. "Disse a ele que a prefeitura seria um sofrimento a mais na minha vida."
Governo
A dificuldade de administrar a cidade prevista por Paulo Afonso foi confirmada logo no início do governo. Na avaliação de Menezes, foi um começo muito difícil, mas o resultado foi "revolucionário".
"Precisava fazer tudo. Não podíamos dizer que era isso ou aquilo. Tudo era prioridade. Mas fizemos um governo revolucionário", recorda o ex-petista, ao ressaltar a construção do primeiro pronto socorro público de Diadema, além da construção de escolas e creches.
Menezes também destacou a parceria com o então governador Franco Montoro (PMDB) para ampliar a rede de água, esgoto e energia elétrica, o que segundo ele contribuiu para o sucesso de sua administração.
Porém, entre a cúpula petista, a primeira experiência de governo do partido demorou para ser reconhecida. Segundo Menezes, foi preciso Frei Beto chamar a atenção do então presidente nacional do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, para que Diadema aparecesse no programa do partido na TV.
"Foi puro preconceito [não aparecer no programa do PT], só porque eu era um ferramenteiro", afirmou Menezes. "Mas depois tiveram que reconhecer o nosso trabalho."
Disputa interna
O reconhecimento do trabalho feito pelo PT de Diadema se transformou em uma disputa interna para saber quem seria o candidato do partido nas eleições municipais de 1988. A concorrência foi tanta que houve até interferência da cúpula do partido. Mas sem sucesso.
Nas prévias, o então petista José Augusto da Silva Ramos, atual deputado estadual pelo PSDB, conseguiu a indicação do partido para ser o candidato a prefeito. E conseguiu se eleger.
Inconformado com o resultado das prévias e das eleições, Menezes se desfiliou do PT por não concordar com a forma que José Augusto comandou o processo de transição. Anos depois, José Augusto foi expulso do PT.
Menezes voltou a administrar Diadema de 1997 a 2000, pelo PSB. Da época que deixou o PT até as eleições de 2008 era um dos maiores adversários do partido na cidade. Convencido da liderança que Menezes exercia na cidade, o PT o convidou em 2008 para ser vice na chapa de Mário Reali (PT), atual prefeito da cidade. A parceria deu certo, e Mário Reali foi reeleito no primeiro turno, com 58,26% dos votos.
"Hoje existe uma ciumeira do meu nome dentro do partido", afirmou Menezes, ao demonstrar desejo de voltar a ser um petista, mas somente se for convidado. "Eu, pessoalmente, já contribui muito pelo povo de Diadema. Não almejo mais grandes coisas", afirmou.
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