Bruna Furlan rejeita rótulo de 'musa' e diz que está estudando regimento da Câmara
Ao que tudo indica, por enquanto Bruna Furlan é apenas mais um rostinho bonito na política.
Aos 27 anos, sem nunca ter disputado uma eleição, foi escolhida deputada federal pelo PSDB de São Paulo com 270 mil votos, terceira maior votação do Estado --atrás somente de Tiririca (PR), 1,3 milhão de votos, e Gabriel Chalita (PSB), 560 mil.
Candidata, filha de prefeito pede, em vídeo, favores para secretário do pai
Veja mapa com todos os resultados das eleições
Veja a cobertura completa sobre as eleições
Acompanhe a Folha Poder no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
Se não é jocosa nem escrachada como o palhaço campeão nem tem o apelo fácil do educador-religioso-conselheiro espiritual Chalita, o que explica, então, a enxurrada de votos de Bruna?
O sobrenome é uma pista. O pai de Bruna, Rubens Furlan (PMDB), é prefeito pela quarta vez de Barueri, município na Grande São Paulo.
O tio Celso Furlan é secretário de Educação da cidade. Outro tio, Toninho Furlan, é presidente da Câmara de Vereadores, dominada pelo grupo político da família.
Adriano Vizoni/Folhapress |
Bruna Furlan rejeita rótulo de 'musa' e diz que está estudando regimento da Câmara |
Os Furlan têm aliados em várias cidades da região, como Osasco, Itapevi, Carapicuíba, Santana do Parnaíba e Jandira, entre outras.
Os apoios renderam a Bruna "dobradas" com políticos tarimbados, como o ex-prefeito de Osasco Celso Giglio (PSDB) e o ex-prefeito de Barueri Gil Arantes (DEM), ambos eleitos para a Assembleia Legislativa paulista.
A deputada eleita declara-se interessada pela militância política desde pequena, mas nunca teve mandato ou ocupou cargo público.
Era do PMDB. Foi convidada a se mudar para o PSDB por José Serra.
Advogada formada pela Unip, com pós-graduação em gestão de cidades pela FAAP, Bruna lista como experiência a atuação em projetos sociais na região e o como diretora voluntária da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).
"Sei que tenho muita coisa a aprender, mas tenho muito boa vontade, muito boa intenção e tenho esperança de poder contribuir, com a minha juventude, na discussão de assuntos de interesse nacional", disse Bruna à Folha.
Ela falou dos temas que pretende priorizar e contou que está se esforçando para chegar menos verde a Brasília.
"A minha primeira atitude depois da eleição foi ler o regimento interno da Câmara, para saber como funciona a Casa. Já li no meu último ano da faculdade, mas, como já faz uns 4 ou 5 anos, eu vou reler, pra que ter a noção exata do funcionamento."
De acordo com ela, "são muitas regras, é muito burocrático, para entender vai levar um tempo".
MUSA
Com um tipo que mistura a beleza selvagem de Cindy Crawford (também tem uma pinta do lado esquerdo do rosto, acima da boca) com o estilo patricinha-religiosa de Sandy ou Sofia Alckmin, Bruna já desponta como candidata a musa do novo Congresso. Não gosta do rótulo.
"Não tenho vaidade, não acho que isso acrescenta. Quando puder mostrar o meu trabalho, acho que os comentários podem mudar. Não sei como agir com tanta coisa que está acontecendo. Estou feliz, mas um pouco assustada."
Bruna é evangélica, da Congregação Cristã. Adora malhar e "essa questão da alimentação". "Se não fosse política, eu faria educação física, nutrição, fisiologia do exercício, gosto muito dessa parte", afirmou.
É solteira e não tem namorado.
BRINCADEIRA DE MAU GOSTO
A deputada eleita classificou como "uma brincadeira de mau gosto", por "falta de experiência", o pedido que fez ao secretário de Saúde de Barueri para que a rede de saúde da cidade recebesse moradores de outros municípios, facilitando assim sua eleição.
O vídeo em que Bruna pede os favores, numa reunião de correligionários, foi revelado semana passada pela Folha.
"Eu tô desesperada atrás de voto, eu não tenho o que fazer, eu preciso da vaga logo, eu preciso do médico, eu preciso do remédio", diz na gravação.
O vídeo foi a base de duas representações contra Bruna por compra de votos e abuso de poder político: uma movida pelo diretório estadual do PT no Tribunal Regional Eleitoral, outra, no Ministério Público Eleitoral, por um cidadão cujo nome o órgão não revela --ambas em investigação.
RICA E POBRE
Famosa por abrigar os condomínios de alto padrão de Alphaville, Barueri tem cerca de 300 mil habitantes e um dos maiores PIBs per capita do país (R$ 100,8 mil, IBGE/2007, contra R$ 29,3 mil de São Paulo), mas apresenta elevada incidência de pobreza (45%, IBGE/2003, contra 28% de São Paulo).
O dinheiro do município vem de indústrias e serviços, atraídos por uma generosa política de isenção tributária.
Fora dos limites da cidade, ultimamente Rubens Furlan ficou mais conhecido por gastar milhões do município com a Arena Barueri, estádio que abrigava os jogos do time que se mudou para Presidente Prudente --hoje o campo tenta atrair os times da capital.
O prefeito também virou notícia ao xingar de "babacas" os integrantes do humorístico CQC, depois de o programa denunciar que a diretora de uma escola municipal levou para a casa uma TV doada à instituição --a prefeitura chegou a barrar na Justiça a exibição do programa, depois levado ao ar.
Leia a seguir a íntegra da entrevista que Bruna deu, por telefone, à Folha.
Folha - A que você atribui uma votação tão expressiva, mesmo sendo sua primeira eleição?
Bruna Furlan - Primeiro agradeço a Deus, segundo aos nossos apoiadores. Tivemos apoio de alguns deputados que foram reeleitos, que contribuíram para que a gente agregasse credibilidade e [tivesse] essa quantidade de votos.
As pessoas me aceitaram muito bem. Por onde eu passei senti uma vontade da população na questão da renovação, de novas ideias, novas pessoas.
Tinha senhoras que diziam: 'olha, vou votar em você porque acredito na juventude'. Aí a gente se apresentava, falava na nossa formação. Eu me formei em direito, me especializei em gestão pública, exerço um trabalho como diretora voluntária na AACD, fui convidada por conta dessa sensibilidade em questões sociais.
E o meu pai tem uma liderança forte na região, porque tem uma história política de bastante prestígio.
Eu disputaria a eleição no PMDB. Mas o ex-governador e nosso candidato, José Serra, me convidou para disputar pelo PSDB. A gente sabia que seria um desafio, topamos esse desafio, ficamos muito contentes com o convite do Serra.
Sei que tenho muita coisa a aprender, mas tenho muito boa vontade, muito boa intenção e tenho esperança de poder contribuir com a minha juventude na questão da discussão de assuntos de interesse nacional.
Como pretende pautar sua atuação?
Tem alguns temas importantes de discussão nacional, de interesse relevante para a população. Fui muito cobrada na campanha para que lutasse pela reforma política, pela reforma tributária. Para que também a gente trabalhasse no sentido de endurecer as leis para o meio ambiente. Tenho muita vontade de me aprofundar nessa questão do meio ambiente. Dentre as atividades parlamentares, que são muitas, gostaria de me aprofundar nessa questão. Tem algumas ideias que a gente ainda está discutindo e pensando, mas eu tenho algumas ideias na questão da AACD, para a gente poder ajudar a AACD, que desenvolve um trabalho muito bonito. E também aprender muita coisa. E também cuidar muito da pessoa especial, é um sentimento meu. Sempre tinha vontade de levantar a bandeira das pessoas especiais, Tanto que fui convidada para ser diretora da AACD em Osasco, onde tive 35 mil votos.
Que proposta de reforma política você defende?
Acho que o mal da política hoje, o câncer, é a corrupção. A lei da Ficha Limpa foi muito debatida, mas é importante ela ser revista, porque ainda não está nos trilhos, tanto que ficou essa dúvida. A questão do voto distrital... Tem uma serie de temas que a gente precisa discutir com a bancada, ver a opinião dos colegas e ver de que forma a gente pode trabalhar para que seja feita a vontade da população.
E o voto em lista, você é favorável?
O voto ilícito?
Não, o voto em lista.
Ah, a questão do voto distrital? Sim, sou favorável sim. É aquela questão de os representantes serem eleitos pelo distrito, pela região?...
É uma lista de nomes pré-definidos pelo partidos...
Na verdade tem que discutir um pouquinho melhor essa questão, porque tem alguns pontos vulneráveis, na minha opinião. A gente tinha até que se encontrar, para eu poder expor mais claramente as minhas ideias.
Você já está em contato com a bancada tucana, o que você sabe sobre a composição da Câmara, lideranças?...
Olha, na verdade a minha primeira atitude depois que eu soube do resultado da eleição foi ler o regimento interno da Câmara e do Senado, pra saber como funcionam as Casas. É importante que a gente saiba. Já li no meu último ano da faculdade, mas, como já faz uns 4 ou 5 anos, eu vou reler, pra que a gente tenha a noção exata do funcionamento. São muitas regras é muito burocrático, pra entender vai levar um tempo.
Eu tenho muito boa vontade, mas para mim é tudo novo. Quando meu pai foi deputado federal, em vez de viajar com minha mãe, eu preferia ir pra Brasília com ele e me apaixonei muito por essa questão do Legislativo, sempre achei muito bonito, essa questão de fazer leis que fossem influenciar na sociedade como um todo.
Mas para mim é tudo muito novo. Então eu vou começar a trabalhar a partir de agora. A gente teve uma votação muito boa, mas eu sei que tenho muito que aprender.
O que você gosta de fazer fora do trabalho?
Eu gosto muito de esporte, gosto de malhar, essa questão da alimentação. Se não fosse política, eu faria educação física, nutrição, fisiologia do exercício, gosto muito dessa parte. Não faço nenhum esporte, tipo vôlei, futebol, mas eu malho bastante, faço pilates, academia, tenha uma atividade física bem... É quando a gente se desestressa.
Você tem namorado?
Não. É difícil namorar uma pessoa que se doa tanto à vida pública. É muito cansativo, não tem fim de semana nem feriado, você abre mão da vida pessoal. Eu me entrego totalmente. Meu pai me chama de animal político.
A sua beleza ajudou na sua votação?
Beleza é muito relativo, né? Tem gente que acha bonita, tem gente que não acha. Acho que isso não influencia muito. O que influenciou, que eu senti nas pessoas por onde passei, foi a questão da juventude. As pessoas às vezes um pouco desacreditadas com algumas coisas que aconteceram na política queriam dar uma chance para novas pessoas. Acho que essa eleição foi o cenário favorável para reeleição.
Novas ideias, novas pessoas, o entusiasmo e a impetuosidade da juventude, mas sempre aliada à experiência. Juventude com responsabilidade.
Acho importante também a sensibilidade da mulher. Ouvia muita gente dizer que precisa de mais mulher na política, que mulher é mais sensível. Estou te dando um parecer do que eu senti durante a minha campanha.
Como vê os comentários de que será uma das novas musas do Congresso?
Estou surpresa, porque tudo é muito novo. Não tenho vaidade nesse sentido, não acho que isso acrescenta. Vejo como elogio, mas, quando eu tiver a oportunidade de mostrar o meu trabalho, acho que os comentários podem mudar. Não sei como agir com tanta coisa que está acontecendo. Estou feliz, mas um pouco assustada.
O que você achou e como você analisa o fato de Tiririca ter sido o campeão de votos?
Eu fiquei muito triste, porque nós precisamos eleger pessoas comprometidas. Não tenho nada contra humorista, contra nenhuma profissão. Então é importante ter as pessoas certas nos lugares certos. Então se alguém se apresenta dizendo "eu não sei o que vou fazer lá, mas quando eu souber...". Quer dizer, tirando sarro. Fiquei um pouco triste. Eu não dou risada como as pessoas, não aceitei como um deboche. Porque lá é a casa do povo, são os representantes da população que têm de estar lá, e não uma pessoa que foi usada.
Mas ele não é um representante da população?
Mas ele não tem comprometimento, você entendeu? A questão não é ele ser um humorista. Não tenho nada contra ele, não o conheço pessoalmente, nunca vi. Já que ele teve essa votação, espero que ele faça um trabalho. Mas, assistindo ao horário eleitoral como todo mundo assistiu, vendo a forma como ele se colocou, fiquei chateada com o resultado. Não por ele, pela falta de comprometimento. Às vezes querendo dar o melhor de mim, às vezes as pessoas vêm conversar comigo e eu não sei de algum tema, eu vou estudar, me aprofundar. Comprometimento.
Na semana passada, quando a Folha revelou um vídeo em que você pede favores para o secretário de Saúde de Barueri para facilitar a sua eleição, você não quis se manifestar. O que tem a dizer?
Não é que a gente não quis se manifestar. É porque a gente estava poucos dias antes da campanha e, quando eu fiquei sabendo, o material já tinha saído. Já estava muito na véspera da eleição.
O que eu tenho a dizer sobre isso é que foi uma colocação muito errada minha, uma brincadeira de mau gosto, nós não estávamos no período eleitoral --foi bem antes da eleição, vocês mesmos publicaram.
Então por ser o ano passado, a gente não pode dizer que é compra de voto. Na verdade eu estava tentando viabilizar, não sabia se ia ser candidata ou não, se ia dar tudo certo. Um dia fui numa reunião que estava o pessoal da saúde, fiz uma brincadeira infeliz, por falta de experiência minha.
Fiquei super chateada com a matéria. Nossa, eu tive um dia... Puxa, fiquei muito chateada mesmo. Não era reunião política [o vídeo mostra uma reunião com políticos e correligionários], não estava ainda no processo eleitoral, a gente estava conversando com o nosso grupo de amigos.
E, sinceridade, acho que não caracteriza. A gente não foi notificado, não tivemos uma ação ainda, então não tenho muito o que falar a esse respeito. Só que foi uma colocação errada minha, uma brincadeira da qual me arrependi. Não penso daquele jeito. Por exemplo, meu pai é prefeito pela quarta vez. Eu nunca fui funcionária da prefeitura, nunca concordei com isso, meu pai não faz uma política empreguista nem assistencialista. Meu pai faz uma política de diminuir o custeio da máquina para aumentar o investimento na cidade. Uma coisa muito responsável, muito séria.
Fiquei muito chateada mesmo com aquilo que aconteceu. Não sou desse jeito, não penso dessa forma. Sabe quando você fala errado? Falei errado.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade