Relator da CPI do Cachoeira admite alterar parte de seu texto
O deputado Odair Cunha (PT-MG) admitiu ontem alterar trechos do relatório final da CPI do Cachoeira após a reação de integrantes da própria comissão. O texto pediu o indiciamento 46 pessoas.
Só o PT saiu em defesa do relatório, classificado pela oposição como "pizza", "carta marcada", "balela", "instrumento de perseguição".]
Procuradoria avalia não haver razão para indiciar jornalistas em CPI
Sergio Lima/Folhapress |
O deputado Odair Cunha |
Uma das polêmicas é sobre o pedido de investigação do procurador-geral, Roberto Gurgel, ao Conselho Nacional do Ministério Público. Cunha o acusa de não ter levado adiante os resultados da Operação Vegas da PF.
Gurgel diz que sua opção de "suspender" a Vegas ajudou na deflagração da Monte Carlo, que prendeu Cachoeira e revelou centenas de gravações envolvendo o ex-senador Demóstenes Torres.
Outro ponto controverso foi o pedido de indiciamento do jornalista Policarpo Júnior, redator-chefe da "Veja" que tinha Cachoeira como fonte e é citado em grampos.
Para Cunha, ele estava a serviço do esquema. Nem Júnior nem outros jornalistas citados pelo relator foram ouvidos pela CPI. Nenhum tivera indiciamento pedido durante a investigação da PF e do Ministério Público.
"Fomos pegos de surpresa", disse o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), da base do governo, contrário ao pedido contra o jornalista.
"Propor o indiciamento do jornalista é mais uma demonstração de que o PT, quando lhe convém, quer calar, inclusive, a imprensa. Duvidar da postura do procurador-geral só se explica por uma razão: a ira do PT em razão de a Procuradoria-Geral ter denunciado os mensaleiros", disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
A Folha apurou que o pedido de indiciamento de Júnior foi decidido pela bancada do PT na Câmara. O PMDB foi avisado, mas não se manifestou na hora. Ontem, após a repercussão, o presidente do PT, Rui Falcão, falou a um interlocutor que foi um erro.
Cunha reconheceu que o pedido de indiciamento é polêmico e pode ser retirado caso seja a vontade da maioria. "Não admito fazer acordo fora do plenário. Quem quiser tirar alguém vai ter que dizer na sessão", disse. O relatório será lido hoje e deve ser votado na próxima semana.
Sobre Gurgel, Cunha assumiu a responsabilidade pela inclusão, rebatendo críticas de que o fez atendendo ao PT.
O PSDB também atacou o fato de o relatório afirmar que o "governador Marconi Perillo (GO) recebia pagamentos periódicos" da organização chefiada por Carlos Cachoeira por meio de um secretário.
O relator disse ontem à Folha que a palavra "periódicos" foi incluída erroneamente e será retirada. O relatório pede a responsabilização do governador tucano, mas sem falar em indiciamento.
Para a oposição, o relator atacou alvos que tiveram alguma relação com a denúncia do mensalão, deixando de lado as investigações que não apontaram quem se beneficiou com os R$ 450 milhões movimentados pelo esquema de Cachoeira.
Todos os indiciados apareceram nas interceptações da PF enviadas à CPI. Não foram descobertas da comissão.
"Esta CPI está se transformando numa grande pizza. Nós não investigamos o que deveríamos investigar. O relatório é um instrumento de perseguição", disse o senador Pedro Taques (PDT-MT).
A oposição pedirá que o Ministério Público indicie os que ficaram fora do relatório, como os governadores Agnelo Queiroz (PT-DF), Siqueira Campos (PSDB-TO) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Os três negam relações com o esquema.
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