Em dia de eleição, 'independentes' criticam Renan na tribuna do Senado
Senadores do grupo dos "independentes" se revezam na tribuna do Senado, nesta sexta-feira, com discursos contrários ao candidato do PMDB à Presidência da Casa, Renan Calheiros (AL). As críticas mais duras foram do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que pediu para o Senado não eleger um candidato que responde a denúncia no STF (Supremo Tribunal Federal) suspeito de três crimes.
"Nós estamos em véspera de eleger presidente do Senado um ilustre senador que o procurador-geral da República fez denúncia ao presidente do STF. Está na mão do presidente do STF a decisão de denunciar o presidente eleito do Senado por uma série de crimes da maior responsabilidade. Seria o caso de suspender essa reunião", defendeu.
Renan Calheiros começou sua carreira política no PC do B; veja a cronologia
Procuradoria acusa Renan de desviar dinheiro e falsificar documentos, diz revista
Discreto, Renan Calheiros mantém influência no Senado
Integrantes do PT e PSDB dizem que denúncia não atrapalha eleição de Renan
Simon disse que, se o STF aceitar denúncia haverá uma "crise" entre o Judiciário e o Legislativo. "Ele se elege hoje e na quarta ou quinta-feira o presidente [do STF] aceita a representação e inicia-se um processo lá. E se inicia-se um processo aqui, vai à Comissão de Ética um debate sobre essa matéria, vamos repetir um filme que já aconteceu."
Renan escutou o discurso de Simon sem demonstrar nenhuma reação. O plenário fez silêncio para ouvir o senador do PMDB depois que Simon reclamou do "excesso de barulho no plenário". Antes de Simon discursar, Renan ficou revisando a leitura do discurso que fará como candidato.
Para o senador João Capiberibe (PSB-AP), o Senado "vem sendo vítima de gestões equivocadas e práticas não republicanas". "Não podemos ficar inertes observando as manobras. Uma simples análise nos últimos anos demonstra que estamos aquém do que a sociedade possa esperar."
O senador leu, em plenário, trechos do editoral da Folha publicado nesta quinta-feira com críticas à eleição de Renan. "Não bastasse o longo currículo de Calheiros, o bom senso bastaria para vetar sua indicação", disse o senador ao citar trecho do editorial.
Apesar das críticas dos "independentes", Capiberipe e Simon foram os únicos a citar nominalmente Renan em seus discursos - os demais fizeram críticas indiretas ao candidato do PMDB.
Líder do PSDB, Álvaro Dias (PR) disse que a "instituição deve ser respeitada" na escolha daquele que vai comandá-la pelos próximos dois anos. "Há desvio do foco para que a instituição possa ser submetida ao achincalhe nacional permanente. Nós oferecemos razões de sobra para o achincalhe permanente, na esteira de novos parâmetros comportamentais éticos impostos pelo Supremo", disse.
Em defesa da candidatura de Pedro Taques (PDT-MT), Dias afirmou que o senador é "competente para verbalizar nossas aspirações, com postura republicana de quem preside esta Casa no Congresso".
Para o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), Taques representa um "novo Senado" voltado para a transparência. "É verdade que os partidos majoritários pelo nosso regimento têm o direito de indicar o seu presidente, tanto na Câmara como no Senado. Mas há desproporcionalidade em relação a isso, o mesmo partido dominando o Congresso na Câmara e no Senado. Isso desestabiliza a democracia no parlamento."
O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) disse que a Casa não pode "permanecer indiferente ao clamor da sociedade brasileira". "Não se trata de modismo, de nuvem passageira. O povo brasileiro não vai descansar até que não vejam mudanças nos padrões."
ALIADOS
Em defesa de Renan, senadores do PMDB também se revezam na tribuna com discursos favoráveis ao candidato. O senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA) disse que, no Senado, não há "ninguém para levantar o dedo" para Renan, "nenhum vestal, o último vestal foi desossado pela imprensa que é o [ex] senador Demóstenes Torres".
O senador Sérgio Souza (PMDB-PR) disse que a denúncia contra Renan não o descredencia para assumir a presidência. "Sabemos, senador Renan, do que fala a mídia. Sabemos que o senhor não foge à responsabilidade para responder perguntas da imprensa e do Judiciário. Sabemos que existe processo no STF, dizendo que o senador não foge à responsabilidade. São fatos de 2007, muito mais ligados à vida particular deste senador do que a vida pública", afirmou.
ACUSAÇÃO
O Procurador-geral da Republica, Roberto Gurgel, denunciou o senador Renan Calheiros sob acusação de ter cometido três crimes : falsidade ideológica, uso de documentos falsos e peculato.
A denúncia foi apresentada ao STF (Supremo Tribunal Federal) na última semana e está no gabinete do ministro Ricardo Lewandowiski, que é o relator do caso.
Em 2007, Renan tornou-se suspeito de pagar despesas pessoais com dinheiro de Cláudio Gontijo, que trabalha para a empreiteira Mendes Júnior. Para justificar que tinha renda para fazer os pagamentos, Renan apresentou documentos e afirmou que tinha ganhos com a venda de gado. O senador pagava uma pensão mensal à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.
A denúncia foi revelada pelo site da revista "Época". Nela diz Gurgel: "Em síntese, apurou-se que Renan Calheiros não possuía recursos disponíveis para custear os pagamentos feitos a Mônica Veloso no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2006, e que inseriu e fez inserir em documentos públicos e particulares informações diversas das que deveriam ser escritas sobre seus ganhos com atividade rural, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, sua capacidade financeira".
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade