Simpatizante do regime militar e ativistas "disputam" praça no RS
Ativistas dos direitos humanos e simpatizantes do regime militar travam uma disputa no terreno onde funcionava uma unidade do Exército em Porto Alegre.
A ONG Movimento de Justiça e Direitos Humanos, com o apoio da prefeitura da capital gaúcha, vai instalar nas próximas semanas no local, na região central da cidade, uma placa informando que ali existiu um quartel onde foram praticadas torturas e prisões ilegais.
A iniciativa faz parte do projeto "Marcas da Memória", que prevê a indicação pública de lugares usados pela ditadura para cometer crimes.
Curiosamente, na semana passada o vereador João Carlos Nedel (PP), conhecido por defender o regime militar, inaugurou em solenidade um novo nome para o trecho de rua que passa em frente ao local: General Zenóbio da Costa, em homenagem ao fundador da polícia do Exército, morto em 1962.
Nedel foi o autor de um projeto instituindo o nome. A inauguração contou ainda com a presença de militares da reserva e da ativa.
O prédio onde funcionava o quartel já não existe mais. Na placa que conta o histórico do local, os ativistas pretendem informar que ali Carlos Lamarca, um dos mais famosos opositores do regime, permitiu a fuga de um oficial que havia sido detido.
Guga Stefanello/Gabinete da ver. João Carlos Nedel | ||
Vereador João Carlos Nedel (PP) batiza rua em homenagem ao general Euclydes Zenóbio da Costa, em Porto Alegre (RS) |
No ano passado, manifestantes que pedem a punição de crimes da ditadura fizeram um protesto na praça e colaram adesivos com referências às torturas ocorridas no quartel.
O ativista Jair Krischke, do Movimento de Justiça, diz que a iniciativa do vereador de batizar a via em frente é uma "reação" ao plano de sinalizar locais usados pela repressão na cidade. Também critica a homenagem a um militar em um lugar que ficou conhecido por crimes do regime.
Procurado pela Folha, Nedel, 71, diz que desconhece o "Marcas da Memória" e que nem sabia da inauguração do monumento pela ONG. "Aquela rua não tinha nome e foi uma forma de homenagear o Exército. Os militares ficaram muito satisfeitos", diz.
Para ele, o país "perde tempo" com investigações sobre aquele período.
Em 2011, Nedel ajudou a barrar iniciativa de vereadores do PSOL que propunha tirar de uma grande avenida de Porto Alegre o nome do primeiro presidente do regime, Castello Branco.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade