Análise: Mobilização sindical tem característica distinta das passeatas de junho
O Brasil vive uma onda positiva de manifestações públicas pela melhoria das políticas públicas e do sistema político.
Todavia, quando se faz uma rápida comparação entre as mobilizações lideradas pelo Movimento Passe Livre (MPL) e o Dia Nacional de Lutas, comandado por entidades sindicais, pela UNE e pelo MST, verifica-se a existência de formas distintas de mobilização, de construir pautas e também de como se relacionar com as estruturas políticas.
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O MPL desencadeou em junho um processo de mobilização sem precedentes na história do Brasil. As mídias sociais --principalmente o Facebook e o Twitter--se constituíram no principal canal de arregimentação de pessoas em substituição às velhas estratégias de panfletagens em portas de fábricas e locais de grande concentração.
A pauta inicial foi a redução da tarifa de transporte público, demanda que pela sua natureza une classes populares e a classe média, seus principais usuários.
Isso explica a presença significativa de jovens e a proliferação espontânea de outros temas como combate à corrupção e reforma política, dentre tantos outros na pauta de reivindicação.
Partidos e lideranças políticas não deram a devida atenção a essas manifestações e, inicialmente, até apostaram no seu refluxo.
O Dia Nacional de Lutas foi convocado por entidades como a Força Sindical, a CUT, a UNE e o MST. Sua pauta já é bem conhecida e mais centrada em questões trabalhistas, como o fim do fator previdenciário, críticas à terceirização, redução da jornada de trabalho, dentre outras questões. Por isso, atinge um público mais restrito.
A ligação com políticos e dirigentes sindicais ligados, atrelados a diferentes partidos e ao governo, ajuda a entender a razão do número reduzido de pessoas nas ruas até agora, se compararmos ao contingente nas mobilizações do MPL. Convém lembrar que a maior parte da população brasileira tem uma relação de extrema desconfiança com os partidos e os políticos.
Por fim, outra questão importante pode ser destacada quando se comparam as duas manifestações. Nas mobilizações lideradas pelo MPL havia uma profusão de pessoas de diferentes origens, o que era visível quando se verifica a autonomia dos manifestantes até na forma de se vestirem.
As mensagens de diferentes tipos expressavam a extensa pauta de reivindicações. No Dia Nacional de Lutas, pelo menos em São Paulo, chama atenção um padrão que se configura quase como uniforme, o predomínio do laranja, cor da Força Sindical.
Isso pode expressar tanto a visível limitação em atrair pessoas não pertencentes a base sindical como também uma preocupação em diferenciar quem não pertence diretamente a essa manifestação. De todo modo, o padrão denota falta de autonomia e, provavelmente, submissão a um comando: outra diferença explícita.
MARCO ANTONIO CARVALHO TEIXEIRA é cientista político da FGVSP.
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