Compra de caças representou 'anos de sofrimento', diz comandante da Aeronáutica
Numa mensagem de texto trocada pelo celular, o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, escreveu que, apesar de não "ter perdido as esperanças", o processo de compra dos caças para o programa FX-2 representou "anos de sofrimento".
Após mais de uma década de discussão, a presidente Dilma Rousseff decidiu pela aquisição de caças suecos Gripen NG, da empresa Saab, para a FAB (Força Aérea Brasileira). Deve ser adquirido um lote inicial de 36 aeronaves de interceptação.
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Menos de uma hora antes do anúncio oficial da compra dos caças, Saito foi fotografado trocando mensagens sobre a decisão do governo na tarde desta quarta, durante cerimônia no Senado.
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
Mensagem do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, enviada durante cerimônia no Senado |
Ele recebeu uma mensagem de uma pessoa identificada apenas como Araújo, que escreveu em francês "A la chasse!" ou, em tradução livre, "à caça!".
Em tom de desabafo, Saito respondeu a mensagem: "Embora nunca tenha perdido as esperanças foram anos de muito sofrimento e, especialmente, para todos os nossos jovens pilotos de caça. Mas a perseverança, a união de todos e apoio incondicional ao CMT foram fatores fundamentais para essa vitória".
Saito e o ministro Celso Amorim (Defesa) anunciam em entrevista coletiva marcada para as 17h detalhes da aquisição dos caças.
O processo de compra se arrasta desde 2001, no final do governo Fernando Henrique Cardoso. Os três concorrentes eram o Rafale, da França, Boeing F/A-18 dos Estados Unidos, e Gripen NG da Suécia.
Em 2009, durante visita do então presidente francês Nicolas Sarkozy, o caça Dassault Rafale foi anunciado como o escolhido pelo presidente Lula, mas o governo brasileiro recuou após a insatisfação da FAB, que não havia sido consultada sobre a decisão.
Também pesou contra os franceses o preço do Rafale, cujo pacote inicial chegou a US$ 8 bilhões. No governo Dilma, os americanos ofereceram um atraente pacote, orçado em US$ 7,5 bilhões mas com muitas compensações. No entanto, o escândalo de espionagem contra o Brasil por parte da Agência Nacional de Segurança norte-americana derrubou politicamente o negócio.
Assim, o Gripen, criticado por ser menor do que os concorrentes e menos testado em combate, voltou à condição de favorito que a própria FAB havia declarado em seu primeiro relatório sobre a escolha, em dezembro de 2009. O pacote de 36 aviões foi oferecido por US$ 6 bilhões, mas a compra pode acabar em torno de US$ 5 bilhões.
CRONOLOGIA
1994 Governo começa a procurar interessados em oferecer um novo avião de caça e superioridade aérea para substituir os Mirage e os F-5
Jul.2001 FHC lança programa de modernização da FAB, de US$ 3,54 bilhões em 7 anos. F-X é a prioridade, com US$ 700 milhões
Ago.2001 Edital é lançado. Sukhoi, Mirage, F/A-18, F-16, MiG-29, Eurofighter e Gripen são oferecidos
Out.2001 ''Short-list'' decidido, já sem F/A-18 e Eurofighter, muito caros
Nov.2002 FHC deixa decisão para o sucessor
Jan.2003 Projeto adiado sob alegação de que combate à fome é prioritário; tudo é reexaminado
Out.2003 Processo é reaberto e fabricantes refazem propostas
Abr.2004 Reunião do Conselho de Defesa para decidir o caso é adiada indefinidamente
Fev.2005 Concorrentes recebem carta anunciando fim do F-X
Abr.2005 Russos, suecos, americanos e franceses refazem propostas alternativas de compra direta ou aluguel
Jul.2005 Governo assina memorando para aquisição na França de 12 Mirage-2000C/B
2006 FAB começa a receber novas propostas para os caças, e o programa ganha o nome de F-X2
Out.2008 FAB exclui o Sukhoi-35 (Rússia) e o Eurofighter (EADS). Ficam na disputa o Saab Gripen NG, o Boeing F/A-18 e o Dassault Rafale
Jan.2009 A Folha revela que a FAB dá preferência ao pacote do Gripen
Set.2009 Lula anuncia a compra do Rafale de forma atabalhoada. Recua em seguida
Dez.2009 FAB faz novo relatório, ajustado para aprovar todos os aviões, mas mantém preferência pelo Gripen
Jan.2011 Dilma assume e adia a decisão. Nos próximos dois anos, os americanos ganham terreno
Mai.2013 Boeing assina acordo com a Embraer para vender avião cargueiro brasileiro, virando favorita absoluta ao negócio
Jul.2013 As revelações da espionagem americana contra Dilma e outras autoridades derrubam politicamente as chances da Boeing
Dez.2013 O governo escolhe o Saab Gripen
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