Coronel reformado diz ter ocultado restos mortais de Rubens Paiva
O coronel reformado do Exército Paulo Malhães, 76, disse ao jornal carioca "O Dia" que participou de uma operação secreta para ocultar os restos mortais do ex-deputado Rubens Paiva, morto sob tortura em 1971.
É a primeira vez que um militar assume a participação no desaparecimento do corpo de Paiva, uma das mais conhecidas vítimas da ditadura.
Em reportagem publicada pelo jornal nesta quinta-feira (20), Malhães disse ter recebido, em 1973, uma ordem do Ministério do Exército para desenterrar e sumir com os restos mortais de Paiva. O deputado havia sido morto dois anos antes sob tortura, no DOI-Codi fluminense.
De acordo com o relato do coronel, o corpo foi enterrado inicialmente no Alto da Boa Vista, na zona norte do Rio. Depois, teria sido exumado e enterrado novamente na praia do Recreio (zona oeste).
"Recebi a missão para resolver o problema, que não seria enterrar de novo. Procuramos até que se achou [o corpo]. Foi um sufoco para achar. Aí seguiu o destino normal", contou Malhães ao jornal "O Dia".
O coronel fez mistério sobre o destino que deu ao cadáver. "Pode ser que tenha ido para o mar. Pode ser que tenha ido para o rio", disse.
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O deputado Rubens Paiva durante CPI na Câmara, em 1963 |
Rubens Paiva foi preso em sua casa em 20 de janeiro de 1971. Segundo relatos de presos políticos e militares, sofreu torturas numa base da Aeronáutica no aeroporto Santos Dumont e na sede do DOI-Codi, onde morreu.
No mês passado, a Comissão Nacional da Verdade acusou dois militares pela morte: o general reformado José Antonio Nogueira Belham, 79, e o tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho, já falecido.
Em entrevista à Folha, Belham negou a acusação e sustentou a versão de que estava de férias quando Paiva foi preso. Nesta quarta-feira, três comissões da Câmara aprovaram convite para ouvir o general. Ele não será obrigado a comparecer e prestar depoimento.
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O CASO RUBENS PAIVA
QUEM ERA Nascido em 1929, Rubens Beyrodt Paiva era engenheiro. Foi eleito deputado em 1962. Após o golpe, foi cassado e se exilou na Europa. Em 1965, voltou ao Brasil e mudou-se para o Rio, de onde manteve contato com exilados
A PRISÃO Em 20 de janeiro de 1971, duas mulheres foram presas com cartas de exilados que seriam entregues a Paiva. Ele foi preso à tarde, em casa, por agentes da Aeronáutica e levado a quartel no aeroporto Santos Dumont. À noite, foi levado ao DOI-Codi, na Tijuca
A MORTE Segundo a Comissão da Verdade, ele foi morto após sessões de tortura no DOI-Codi. Exército sustenta que ele não morreu no local
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