Análise: Candidatos falam em mudança, mas sem dizer o que alterar
As principais estrelas do início do programa eleitoral subverteram a máxima irônica segundo a qual é preciso mudar para que tudo fique como está, do escritor italiano Giuseppe di Lampedusa.
Dilma Rousseff, com Lula, e Aécio Neves parecem postular que é preciso falar permanentemente em mudança, mas sem apontar nada de concreto a ser alterado.
Se o Datafolha mostra que três quartos dos eleitores querem medidas diferentes no próximo governo, resta à petista o malabarismo retórico de associar continuidade e transformação.
"O Brasil (...) não interrompeu o grande ciclo de mudanças que vinha desde o governo Lula", disse Dilma na TV, ao falar dos feitos dos últimos anos. Não por acaso, o site lançado por Lula com o mesmo objetivo se chama "O Brasil da Mudança".
A presidente-candidata atribui deficiências de seu mandato à crise internacional, que "reduziu um pouco o nosso ritmo de crescimento" –a queda foi de 4,6% ao ano, no governo anterior, para menos de 2%.
E, como na campanha passada, promete-se um "novo ciclo" de desenvolvimento.
Já Aécio, da coligação Muda Brasil, apresentou uma mensagem crítica à gestão de Dilma –mas não necessariamente às escolhas petistas que vêm desde Lula.
Para se vacinar contra a acusação de pretender cortar programas sociais para conter a inflação, adotou uma tese fácil e enganosa sobre a redução do gasto público.
"Tem outro jeito: gastar menos com o governo e mais com as pessoas", diz a propaganda do PSDB na TV.
A mensagem é fácil de defender, por associar a possibilidade de mais benefícios à população à redução do custo da máquina federal –com um ataque implícito ao aumento do número de ministérios, estatais e cargos promovido pelo PT.
E é enganosa porque a quase totalidade da escalada das despesas nos últimos anos está ligada à área social, ou, nas palavras do candidato, aos gastos "com as pessoas".
Gastos com programas universais de transferência de renda às famílias –sem contar o Bolsa Família– saltaram de 6,7% para o equivalente a 9% Produto Interno Bruto de 2002 para 2013.
Já os gastos do governo "com o governo" não apresentam sinais visíveis de elevação no período. Encargos com pessoal ativo e inativo, por exemplo, caíram de 4,8% para 4,2% do PIB.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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