Perito vê indícios de armação em áudio mostrado por Cunha
A gravação que o líder do PMDB na Câmara, o deputado Eduardo Cunha, apresentou na terça-feira (20) como suspeita de que ele é vítima da máquina do governo tem indícios de "armação", segundo o perito André Morrison, que chefia o serviço de análise de áudio e vídeo da Polícia Federal.
"A falta de naturalidade na fala é muito acentuada. Parece que estão lendo um texto. Isso é indício de armação", disse à Folha Morrison, que preside a Associação Nacional dos Peritos Federais.
Cunha é candidato à presidência da Câmara dos Deputados e apresentou a gravação como uma orquestração da cúpula da PF para atingi-lo e beneficiar o candidato petista ao cargo, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Alan Marques/Folhapress | ||
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, durante café com jornalistas em Brasília |
Na conversa, um suposto aliado de Cunha fala com outro homem que menciona dinheiro para não incriminar o deputado. "Se eu ficar abandonado, eu vou jogar merda no ventilador. Está todo mundo enchendo a burra de dinheiro e eu estou abandonado e duro, sem grana", diz alguém que diz ser da PF.
Cunha disse ter recebido o áudio de um policial federal.
O perito da PF afirma que uma das poucas conclusões que dá para tirar do diálogo gravado é que ele não ocorreu por telefone.
Conversas telefônicas têm uma frequência de até 4.000 Hertz, segundo Morrison, e no diálogo apresentado por Cunha essa grandeza chega a 16 mil Hertz (frequência, nesse caso, é a oscilação de ondas gerada pela fala).
TEXTO LIDO
Há também, segundo o perito, indícios de que o texto foi lido. Ele cita duas características da conversa para chegar a essa suspeita.
Não há sobreposição nem interrupção de diálogos, como acontece na vida real; um espera o outro terminar sua fala para começar a sua parte, como se fosse uma peça de teatro amador.
"A fala tem um ritmo e uma entonação natural. Aquela fala não tem naturalidade alguma. Há sinais de que foi uma conversa acordada", afirma Morrison.
Outra característica inusual da gravação é que, no final do diálogo, o padrão da conversa sofre uma mudança abrupta, um indício, ainda segundo Morrison, de que a leitura foi interrompida e os dois começaram a entabular um diálogo mais natural.
O perito diz que só é possível identificar os interlocutores que fizeram a gravação se a Polícia Federal chegar a suspeitos e cotejar o padrão de vozes, já que a fala de cada pessoa difere da de outra como a impressão digital. A PF instaurou inquérito para investigar a gravação.
Sem identificar os suspeitos que conversam, seria impossível descobrir os donos daquelas vozes, ainda de acordo com Morrison.
Isso ocorre porque o país não conta com um banco de vozes com milhões de registros, como acontece com a polícia dos Estados Unidos.
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