CPI da Petrobras 'esconde' contrato para investigar contas no exterior
O polêmico contrato firmado pela CPI da Petrobras com a empresa de investigação Kroll, no valor de R$ 1 milhão, para rastrear contas no exterior dos envolvidos no esquema de corrupção, até hoje permanece secreto mesmo para os deputados integrantes da comissão.
A Kroll já começou seus trabalhos desde a última segunda-feira (13), quando assinou formalmente o contrato com a Câmara. Já existia uma minuta do documento desde o fim do mês passado –em 27 de março foi publicada no "Diário Oficial" a inexigibilidade de licitação.
No contrato, há detalhes sobre a atuação da empresa e seus objetivos.
A contratação da empresa foi articulada diretamente pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que também é investigado no esquema de corrupção da Petrobras. Cunha é alvo de inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal), sob acusação de ter se beneficiado dos desvios.
A atuação da Kroll pode ajudar Cunha e outros alvos da Lava Jato caso sejam encontrados recursos financeiros dos delatores que não foram declarados às autoridades, o que enfraqueceria seus depoimentos. O doleiro Alberto Youssef, um dos delatores, disse à Polícia Federal que Cunha se beneficiou do esquema de corrupção. Ele nega a acusação.
A Kroll se envolveu em polêmicas com o banqueiro Daniel Dantas, que a contratou. Funcionários da Kroll foram acusados de violação de sigilo pessoal e empresarial de adversários do banqueiro.
Em sentença de 2012, Dantas foi absolvido, mas funcionários da empresa foram condenados por formação de quadrilha. Procurada, a Kroll não informou se houve reversão da condenação.
SIGILOSOS
Os documentos relativos ao contrato com a Kroll são todos sigilosos, mas já foram solicitados diversas vezes por integrantes da comissão de inquérito. Os parlamentares têm direito ao acesso, mas até hoje não o conseguiram.
O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), foi cobrado na última quinta (16) pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP), durante a sessão da comissão, e disse que o contrato já estava disponível na secretaria da CPI. Os deputados, porém, mesmo assim não conseguiram acesso e foram informados que o contrato ainda estava na Diretoria-Geral da Câmara, responsável pela administração da Casa.
A previsão é que durante a semana a documentação fique disponível.
A Folha apurou que a documentação ficará guardada em uma sala-cofre, com acesso permitido apenas para os deputados, que não poderão entrar com equipamentos eletrônicos, para evitar vazamentos. Só a cúpula da CPI participou das reuniões com a empresa para orientar as diretrizes de sua atuação.
"Não estou entendendo direito o objeto. Vão rastrear as contas com que objetivo? O contrato é público e todo mundo da CPI tem que ter acesso", disse Ivan Valente.
Hugo Motta afirmou que o sigilo do contrato foi uma exigência da própria Kroll e que, se dependesse dele, divulgaria os dados publicamente. Disse ainda que iria tomar providências nesta semana para que a documentação seja disponibilizada aos deputados. Segundo ele, a demora se deveu aos trâmites burocráticos.
"Os parlamentares poderão fazer sugestões ao trabalho", disse.
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