Obras de saneamento no rio São Francisco estão incompletas
O sistema de tratamento de esgoto da cidade de Igaporã, sudoeste da Bahia, levou dois anos para ser concluído. A obra –bancada pelo governo federal– custou R$ 10,9 milhões, o equivalente a um terço do orçamento do município de 16 mil habitantes.
Mas embora o governo Dilma Rousseff a considere concluída, o esgoto continua sendo despejado sem tratamento no rio São Francisco.
A prefeitura se recusou a receber a obra: os canos foram instalados "de qualquer jeito" e, por isso, entopem em vários pontos, diz o secretário municipal de Infraestrutura, Celso Fagundes.
Assim como essa, outras 33 obras de saneamento nas margens do São Francisco são dadas como prontas, mas não funcionam plenamente.
O número representa 44% do total de 79 obras de esgotamento em cidades nas margens do rio consideradas concluídas pelo governo federal.
Editoria de Arte/Folhapress |
O levantamento é do senador Otto Alencar (PSD-BA), presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado.
As obras de saneamento representam um dos principais eixos do programa de revitalização do São Francisco e são consideradas vitais para a qualidade da água do rio.
Deficiências na execução das obras e falta de estrutura e recursos para operar os sistemas são apontados pelas prefeituras como os principais problemas das redes de esgotamento já inauguradas.
Em Floresta (PE), outra cidade cuja obra é dada como pronta, o sistema de saneamento orçado em R$ 6 milhões não funciona e o esgoto ainda é despejado no rio.
A cidade é o retrato do paradoxo: fica num dos pontos de captação de água dos canais da transposição, cuja obra tem orçamento 1.366 vezes maior que a estação de tratamento (R$ 8,2 bilhões).
O novo sistema é formado por duas estações de tratamento, quatro estações elevatórias de bombeamento do esgoto, cinco fossas e uma rede coletora. Mas nenhuma etapa está 100% concluída.
"Para piorar, a obra está abandonada há um ano. Tudo que foi construído está se deteriorando", diz Adelmo Nunes, secretário de Infraestrutura em Floresta.
No outro marco inicial da transposição, em Barra (BA), a nova estação de tratamento até funciona, mas as bombas que levam a água até um ponto mais alto do sistema são operadas manualmente. O prefeito Artur Silva Filho (PP)deslocou funcionários para ligar e desligar o equipamento.
OUTRO LADO
Procurada pela Folha, a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba) informou que não responde pela operação de sistemas, mas garante que tem colaborado para "viabilizar a operacionalização por meio de termos de compromisso com as concessionárias de esgoto".
Sobre as obras paralisadas, o órgão alega enfrentar "percalços", como pendências fundiárias e ambientais, abandono das obras pelas empresas contratadas e falta de interesse do município.
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