Lobista suspeito na Lava Jato pagou parte de imóvel de José Dirceu
Um lobista investigado pela Operação Lava Jato ajudou o ex-ministro José Dirceu a comprar em 2012 o imóvel usado até recentemente para sediar a empresa de consultoria que ele abriu após deixar o governo. No mesmo ano, o lobista comprou uma casa de uma filha de Dirceu.
As duas transações reforçam as ligações entre Dirceu e o lobista Milton Pascowitch. Dono de uma consultoria chamada Jamp Engenharia, Pascowitch foi contratado pela empreiteira Engevix para aproximá-la do PT e abrir portas na Petrobras, de acordo com executivos da empresa.
Os procuradores da Operação Lava Jato, que investigam o esquema de corrupção descoberto na estatal, desconfiam que o dinheiro recebido por Pascowitch da Engevix era propina destinada a políticos e funcionários da Petrobras que teriam facilitado os negócios da empreiteira.
Pascowitch, que está preso em Curitiba desde maio, ajudou a Engevix a se aproximar do então diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, ligado ao PT e responsável por todos os contratos de obras feitas pela estatal até 2012, quando deixou a empresa.
Entre 2008 e 2011, a Engevix pagou R$ 1,1 milhão à consultoria de Dirceu, a JD. Em 2011 e 2012, a Jamp, de Pascowitch, pagou mais R$ 1,5 milhão. Dirceu, a empreiteira e o lobista dizem que os pagamentos foram feitos para remunerar serviços de consultoria à Engevix no exterior.
Mas os investigadores da Lava Jato consideram os pagamentos suspeitos . Na decisão em que mandou prender Pascowitch, o juiz federal Sergio Moro observou que alguns pagamentos foram feitos em 2012, quando Dirceu e outros petistas envolvidos no escândalo do mensalão estavam sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal.
Foi nesse mesmo ano que Pascowitch ajudou Dirceu a comprar o imóvel ocupado por sua consultoria, um sobrado na av. República do Líbano, na zona sul de São Paulo, ao lado do Parque do Ibirapuera. O lobista pagou R$ 400 mil como sinal pela casa, adquirida por R$ 1,6 milhão.
A informação sobre a participação do lobista na transação foi divulgada pela assessoria de Dirceu, após questionamentos sobre a aquisição do imóvel. Segundo Dirceu, o contrato de consultoria que ele tinha com o ex-ministro permitia que seus serviços fossem pagos assim.
LAVAGEM
A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar a transação imobiliária sob a suspeita de que Dirceu cometeu o crime de lavagem de dinheiro. Os R$ 400 mil foram pagos diretamente por Pascowitch aos vendedores da casa, sem que o dinheiro passasse pelas contas de Dirceu, e isso despertou suspeitas.
De acordo com a assessoria do ex-ministro, a JD tinha créditos com a Jamp decorrente do contrato de consultoria e por isso Dirceu pediu que o lobista quitasse a dívida pagando parte do imóvel.
Em petição protocolada no inquérito sobre o caso, a defesa do petista apontou outra transação imobiliária, que envolveu Pascowitch e uma das filhas de Dirceu, Camila.
Segundo a assessoria do ex-ministro, em maio de 2012 ela queria vender uma casa no bairro da Saúde, na zona sul de São Paulo, para comprar um apartamento. Pascowitch mostrou interesse e outra empresa dele, a Jamp Participações, adquiriu a casa.
Segundo o advogado Roberto Podval, que defende Dirceu, ele conheceu o lobista em 2008, quando o petista passou a prestar serviços de consultoria para a Engevix e Pascowitch era funcionário da empreiteira. Eles mantiveram relações comerciais depois que ele saiu da Engevix e abriu a própria consultoria.
OUTRO LADO
A defesa do ex-ministro José Dirceu aponta que todas as relações comerciais mantidas com o lobista Milton Pascowitch e com a empreiteira Engevix foram lícitas e não tiveram ligação com contratos da Petrobras.
O advogado de Dirceu, Roberto Podval, afirmou em nota que a operação pela qual a empresa de Pascowitch pagou parte do imóvel comprado pelo ex-ministro em 2012 "foi perfeitamente legal".
A forma como se deu o pagamento –diretamente para conta de terceiro– estava explicitamente prevista no contrato de consultoria assinado entre as empresas de Dirceu e Pascowitch, segundo o advogado do petista.
Quanto à compra do imóvel que pertencia à filha de Dirceu por Pascowitch, a defesa disse que o valor da operação foi usado pela filha do ex-ministro para adquirir um novo imóvel, onde ela mora até hoje.
"A compra é totalmente legal e não tem qualquer relação com o contrato de consultoria entre a JD e a JAMP [empresas de Dirceu e Pascowitch, respectivamente]", afirmou.
O advogado disse ainda que em 2012, ano do julgamento do mensalão, Dirceu ainda não cumpria pena e por isso conseguiu desenvolver suas atividades profissionais. como consultor.
A defesa de Milton Pascowitch informou que não iria se manifestar.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade