PF prende no Sul ex-policial argentino acusado de crimes na ditadura do país vizinho
Divulgação | ||
A PF prendeu Roberto Oscar Gonzalez, um ex-policial argentino procurado pela Interpol |
A Polícia Federal prendeu no Rio Grande do Sul, nesta segunda-feira (6), um ex-policial argentino procurado pela Interpol por crimes como mortes, sequestro e tortura cometidos durante a ditadura no país vizinho.
Roberto Oscar Gonzalez, 64, vivia escondido em um sítio na área rural de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, e tinha mandado de prisão expedido pelo Supremo Tribunal Federal no Brasil.
Ele morou no município gaúcho com outro ex-policial argentino foragido, Pedro Osvaldo Salvia, que morreu no último dia 17 de junho.
De acordo com a PF, no dia da morte Gonzalez levou o amigo a um hospital de Viamão e forneceu o endereço onde viviam, o que facilitou a captura. A investigação aponta que ele está no Brasil há mais de dez anos.
O governo argentino acusa Gonzalez de "genocídio" e participação em um grupo terrorista a partir de 1976, ano em que começou a ditadura no país vizinho. Entre as mortes atribuídas a ele pelo Ministério da Justiça argentino está a do escritor e jornalista Rodolfo Walsh, que desapareceu em 1977 em um dos casos mais simbólicos do regime.
Desde a década passada, autoridades argentinas vinham repassando informações que apontavam a permanência de Gonzalez no Sul do Brasil.
A Polícia Federal afirma que, enquanto esteve no Rio Grande do Sul, ele tentou se ocultar para escapar da prisão: não expediu documentos, não movimentava dinheiro e era conhecido no local onde vivia apenas como "Chico". O único rastro deixados no Brasil, diz a PF, foi a abertura de uma empresa de comércio exterior, posteriormente fechada.
Em 2014, uma multa de trânsito aplicada perto de Porto Alegre em um carro que pertencia a essa empresa forneceu uma pista que contribuiu para centrar a investigação na região.
Segundo a polícia, Salvia chegou a viver escondido no Rio e veio a Porto Alegre em 2009 devido a problemas de saúde. Os dois trabalharam em um haras e, de acordo com a PF, tinham um estilo de vida simples. Os foragidos foram colegas em uma mesma unidade policial argentina.
"Assim que González começou a ser processado na Argentina, quando a coisa ficou mais séria, ele veio para o Brasil", diz o delegado Farnei Franco Siqueira. O país vizinho oferecia recompensa de até 500 mil pesos (o equivalente a cerca de R$ 175 mil) por informações que levassem à prisão dele.
EXTRADIÇÃO
A Polícia Federal diz que não há indícios até o momento de que os dois tenham contado com a colaboração de moradores da região para se esconder. Ao ser preso, González disse que cometeu crimes por "convicção" e por patriotismo, de acordo com a PF. Ele ainda não constituiu advogado.
"Ele chegou a falar em centenas, talvez milhares de pessoas [que matou]. A gente não tem nenhum dado oficial sobre essa informação, mas acredita que tenha sido um número bem significativo", diz o delegado.
O governo do país vizinho também o acusa de delitos comuns, como roubo.
González permanece preso na superintendência da PF em Porto Alegre. A ida dele para a Argentina depende de um processo de extradição. Enquanto isso, ele deve permanecer em uma cadeia no Rio Grande do Sul.
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