Análise
País deve ter dias com governo em decomposição e pastas sem titular
A ressaca do impeachment será dura para a ainda presidente Dilma Rousseff. Com poucas horas para digerir a derrota na Câmara, ela acordará nesta segunda (18) com o mandato por um fio e o governo em decomposição.
Ao menos cinco ministérios devem amanhecer sem titular. A lista de demissionários se divide entre os que traíram a presidente, como Gilberto Kassab (Cidades), e os que se licenciaram do cargo e não pretendem voltar.
Dos três ministros do PMDB que reassumiram os mandatos de deputado na semana passada, dois cumpriram a promessa de votar contra o impeachment: Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia).
Mauro Lopes (Aviação Civil), cuja nomeação agravou a crise entre Dilma e o vice Michel Temer, votou a favor da cassação da presidente. Só deve voltar a pisar no Planalto depois da conclusão do julgamento no Senado.
Abatido com o resultado da votação, o ministro licenciado da Saúde considera que a missão na Esplanada se encerrou. Castro ficou no cargo por apenas seis meses e sofreu críticas por declarações desastradas sobre a epidemia do vírus da zika.
"Foi muito bom ser ministro, mas não retorno mais. Fico deputado", disse à Folha. Questionado sobre quem vai substitui-lo na pasta a partir desta segunda, o peemedebista foi sincero: "Não tenho a menor ideia". Desde que ele saiu, o ministério é tocado pelo interino Agenor Álvares.
Kassab entregou a carta de demissão na sexta (15), como senha para os votos do PSD a favor da cassação da presidente. O Ministério das Cidades é responsável pelo Minha Casa, Minha Vida, uma das vitrines da gestão de Dilma.
O quinto ministério vago será o da Integração Nacional, que era ocupado por Gilberto Occhi (PP). O partido dele também votou maciçamente a favor do impeachment.
Enquanto Dilma tenta tapar os buracos sem saber por quanto tempo ficará na cadeira, o vice Michel Temer negocia cargos para um futuro governo. No entanto, ele ainda não pode assinar decretos ou fazer nomeações.
Nas próximas semanas, o país deverá viver uma situação exótica: terá um governo pela metade. Enquanto o Senado não autoriza a abertura do processo de impeachment, Dilma é uma quase ex-presidente. Temer, um quase futuro presidente.
Como os dois estão rompidos, a soma não é capaz de oferecer ao país um chefe de governo.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade