Ex-presidente da Andrade diz que Berzoini cobrou propina 'retroativa'
Alan Marques - 4.dez.2015/Folhapress | ||
O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini |
O ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio de Azevedo, afirmou em acordo de delação premiada que o então presidente do PT, Ricardo Berzoini, hoje ministro da Secretaria de Governo, cobrou em uma reunião feita em 2008 que houvesse o pagamento de propina referente a 1% de todas as obras da empresa desde o início do governo Lula, em 2003.
Segundo Azevedo, a empresa não aceitou a cobrança retroativa da propina, e fez um acordo para que o pagamento fosse feito "em relação a algumas obras em andamento e a todas as futuras".
Essa propina era paga por meio de doações oficiais ao partido "e cobrada sistematicamente por João Vaccari [Neto, ex-tesoureiro do PT]", segundo a delação.
As informações sobre a colaboração de Otávio de Azevedo e também de outro executivo da Andrade, Rogério Nora, foram divulgadas pela Procuradoria Geral da República em um pedido de inclusão de novos investigados no inquérito que apura a existência de uma organização criminosa na Petrobras. A PGR não anexou a íntegra dos depoimentos.
Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Azevedo "foi claro ao dizer que em 2008 teve reunião, a pedido do PT, com o então presidente do partido, hoje ministro, Ricardo Berzoini, que de forma bastante clara (...) cobrou, a título de propina, 1% de todas as obras negociadas entre a empresa e o governo federal, desde o início de 2003, quando o ex-presidente Lula assumiu o governo".
Na contabilidade da Andrade, houve doações oficiais ao PT em torno de R$ 94 milhões entre 2009 e 2014. Otávio Azevedo, nas palavras de Janot, "não soube distinguir com exatidão o que era contribuição espontânea e o que era pagamento de propina", mas estimou que cerca de R$ 40 milhões referiam-se a propina.
PALOCCI
O ex-presidente da Andrade relatou ainda que o ex-ministro Antônio Palocci, homem forte do primeiro mandato de Dilma Rousseff, e Giles de Azevedo, ex-chefe de gabinete de Dilma, pediram que a empresa quitasse ilegalmente uma dívida de campanha de 2010.
Isso ocorreria por meio do pagamento, fora da contabilidade da campanha, de uma dívida com a empresa Pepper, de comunicação.
Otávio relatou ainda que Palocci e a ex-ministra Erenice Guerra, também próxima a Dilma, atuaram "de forma decisiva no esquema ilícito relacionado à construção da usina de Belo Monte". Ficou acertado então que a Andrade pagaria de propina referente a essa obra 1% dos valores recebidos, sendo 0,5% ao PT e 0,5% ao PMDB, segundo o relato.
Em relação à campanha presidencial de 2014, Otávio Azevedo afirmou que o atual ministro da Comunicação Social de Dilma, Edinho Silva, à época tesoureiro de sua campanha, cobrou uma contribuição de R$ 100 milhões.
"O montante sugerido por Edinho levava em consideração os diversos negócios mantidos entre a empresa e o governo. Em outras palavras, estava claro (...) que se tratava de valor arbitrado a partir dos lucros auferidos pela empresa", escreveu Janot.
Sobre essa contribuição, Otávio Azevedo disse ainda que Giles também pressionou o pagamento.
Outro executivo da Andrade, Flávio Machado, relatou inclusive que Vaccari cobrou propina de 1% em relação aos valores financiados pelo BNDES para uma obra da Andrade na Venezuela.
Essa obra, segundo Otávio Azevedo, foi conseguida com a ajuda do então presidente Lula.
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