Executivo 'anticorrupção' da Camargo Corrêa é citado em investigação
Ana Paula Paiva - 2.jun.2016/Valor | ||
Flávio Rimoli, chefe de governança da Camargo Corrêa, citado em investigação sobre Embraer |
O vice-presidente de governança corporativa, auditoria e compliance da Camargo Corrêa, Flávio Rimoli, é acusado de autorizar o pagamento de propina a funcionários públicos da República Dominicana quando era executivo da Embraer.
Rimoli foi contratado pela empreiteira para chefiar o departamento responsável por medidas anticorrupção. A acusação contra ele foi feita por Elio Moti Sonnenfeld, que foi lobista da Embraer para negócios no exterior.
Sonnenfeld admitiu ter pago propina de US$ 3,4 milhões a uma autoridade do país caribenho para que a companhia conseguisse um contrato de venda de oito aviões militares ao país por US$ 92 milhões, em 2008. Segundo Sonnenfeld, a propina foi autorizada por Rimoli, na ocasião vice-presidente jurídico da empresa.
Ele trabalhou por 33 anos na Embraer e saiu em 2013. Foi para a Camargo Corrêa em 2015 a convite do presidente da empresa, Artur Coutinho, que também fez carreira na fabricante de aeronaves.
O caso foi descoberto pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em 2011, que enviou um pedido de explicações à companhia brasileira. Com medo de ser enquadrada nas leis americanas anticorrupção, que chegam a excluir do mercado empresas flagradas corrompendo funcionários públicos, a Embraer encomendou uma auditoria interna para investigar seus procedimentos.
A empresa contratou para o serviço o escritório Baker & Makenzie, um dos maiores do mundo, e passou a colaborar com as autoridades dos EUA.
O resultado da investigação sobre o pagamento de propinas na América Central foi compartilhado com o Ministério Público Federal, no Rio, e com o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, do Ministério da Justiça. O depoimento de Sonnenfeld foi feito a procuradores brasileiros.
QUEIXA CRIMINAL
Em 2014, procuradores fizeram uma queixa criminal contra Sonnenfeld e oito ex-altos funcionários da Embraer, acusando-os de corrupção e lavagem de dinheiro relacionadas ao esquema, que teria funcionado entre 2008 e 2010.
Rimoli não foi formalmente implicado na ocasião. Fontes ouvidas pela Folha, no entanto, afirmam que a investigação continua, foi desmembrada e a denúncia feita pelo lobista contra Rimoli é alvo de análise.
Atingida em cheio pela Lava Jato, a Camargo Corrêa criou em abril do ano passado a diretoria de governança para "centralizar os diversos esforços de aprimoramento de seus programas de controle interno e transparência administrativa".
O recado para a Justiça e o mercado era de que o grupo estaria agora empenhado em evitar novos escândalos de corrupção.
OUTRO LADO
A Camargo Corrêa disse, por meio da assessoria de imprensa, que Rimoli avisou a empresa sobre o processo do tempo em que trabalhou na Embraer e "esclareceu que não houve prosseguimento no caso dele".
O advogado de Rimoli, Celso Vilardi, não respondeu as ligações da reportagem.
A Embraer, em nota, diz que desde 2011 conduz uma investigação interna e coopera com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos em relação a alegadas violações às leis do país.
"A empresa imediatamente contratou advogados externos para conduzir uma ampla investigação interna, de forma independente" e "tem colaborado plenamente com as autoridades", afirma a Embraer.
A companhia, diz a nota, não é parte no processo que tramita no Brasil e, portanto, não tem acesso às informações nele contidas.
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