Fama de rico de Eike Batista liberou negócio na Caixa, diz delator
Ricardo Moraes - 26.abr.2012/Reuters | ||
Eike Batista em cerimônia de início da produção de poço no RJ, em 2012 |
O título de homem mais rico do Brasil e a presença do empresário Eike Batista na lista das dez pessoas mais abastadas do mundo fizeram os negócios do grupo EBX com o fundo de investimentos do FGTS deslancharem, segundo a delação premiada do ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto.
Cleto afirmou aos investigadores da Lava Jato que a LLX, empresa de logística do grupo EBX, fez uma captação no fundo, via emissão de debêntures no valor de R$ 750 milhões, em maio de 2012. A operação tinha o objetivo de financiar a construção do Porto de Açu, no Rio, e se tratava de um complexo industrial atrelado ao porto.
O delator afirmou que o negócio enfrentou resistências para receber aval da diretoria e só foi aprovado depois que Eike assumiu, como pessoa física, os riscos da operação. A negociação era considerada de risco porque estava condicionada a que o porto ficasse pronto e operacional e tivesse, então, recebíveis.
Cleto disse que o Otávio Lazcano, ex-diretor do grupo, deixou uma reunião para telefonar ao empresário. Ele, diz o delator, voltou "com a solução de que o Eike daria um aval, na pessoa física, para a operação e que isto solucionava todo o problema, pois na época Eike era uma das dez pessoas mais ricas do mundo e, caso a empresa não pagasse, ele mesmo teria que pagar".
"Na época, não havia questionamentos sobre o grupo em si, ou seja, não havia nenhuma preocupação com a solvência e saúde financeira do Grupo EBX", completou.
O delator apontou que Eike tinha interesse em estreitar relações com o fundo. "Que o próprio Eike foi à CEF se encontrar com o depoente e outros vice-presidentes da CEF, para apresentar o grupo, com o objetivo de captar valores, não apenas do FI-FGTS, mas também de outras operações".
Eike Batista já foi o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões, mas seu império desmoronou depois que empresas deixaram de cumprir cronogramas e de atingir metas. A falta de resultados e o pessimismo em relação ao futuro do grupo preocuparam investidores, e as ações passaram a cair na Bolsa e, com isso, o patrimônio do empresário começou a encolher e as empresas entraram com
pedidos de recuperação judicial.
PROPINA E APOIO
A Folha revelou em junho que Cleto afirmou em sua delação que a operação no FI-FGTS envolveu o pagamento de propina. O delator disse acreditar que Eike tenha negociado diretamente a vantagem indevida com o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e que o total de vantagem indevida seria de R$ 6 milhões.
"Cunha havia comentado com o depoente que tinha visitado a sede da EBX no Rio de Janeiro. Que esta visita foi na época da operação e no contexto mencionado e, portanto, pode ter sido nesta reunião que Cunha cobrou a propina. Que Cunha comentou com o depoente que fez tal visita também na época da operação".
Cleto disse que Cunha "pediu ao depoente "apoio" para a operação, que isto significava que Cunha já tinha conversado com a empresa e negociado alguma propina.
Ele explicou que, quando Cunha pedia "apoio" ao depoente, significava que era para o depoente votar favoravelmente no Comitê de Investimento do FI-FGTS ao projeto.
OUTRO LADO
O advogado de Eike, Sérgio Bermudes, afirmou que o delator tem que provar quais itens do seu patrimônio o empresário colocou como garantia e que há uma inversão do ônus da prova.
Disse ainda que Eike nunca se reuniu com Cunha para tratar de liberação de recursos do FI-FGTS ou de propina e que não tem relacionamento próximo com ele. Sobre uma possível ida à Caixa para apresentar a empresa, o advogado afirmou que Eike inclusive fez "road show" para apresentar as empresas a investidores.
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