Advogado que relativizou crimes da ditadura volta ao governo de SP
Alexandre Carvalho/Divulgação | ||
O governador Geraldo Alckmin na cerimônia de posse de Ricardo Salles como secretário do Meio Ambiente |
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) trouxe de volta à gestão o fundador do movimento Endireita Brasil, Ricardo Salles, 41, que diz ter sido "mal interpretado" ao questionar crimes cometidos por militares na ditadura.
Secretário particular de Alckmin entre 2013 e 2014, Salles foi empossado secretário de Meio Ambiente nesta segunda (18), após o seu partido, o PP, ter aderido à pré-candidatura de João Doria (PSDB) à Prefeitura de São Paulo.
Salles disse à reportagem que "nunca defendeu a ditadura", mas argumenta que, no Brasil, prevalece uma versão, a da esquerda. "Os militares fizeram coisa errada? Fizeram, não tenho dúvida. A guerrilha também fez", afirmou.
"Alguns fatos precisam ser imputados à direita e alguns à esquerda. Isso não anula o passado, mas esclarece o que hoje está meio esquisito, mal explicado", defendeu.
Ele citou o caso do soldado Mário Kozel Filho, morto em 1968. "Até hoje não sabem quem explodiu a bomba e ninguém investiga", diz.
Kozel morreu em um ataque de guerrilheiros da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) contra o quartel-general do 2º Exército, em SP.
Em 2013, em uma palestra no Clube Militar, no Rio, Salles defendeu que militares não deviam temer falar à Comissão da Verdade.
"Não vamos ver generais e coronéis, acima dos 80 anos, presos por causa dos crimes de 64. Se é que esses crimes ocorreram", disse, na ocasião.
À época, sua presença no lançamento da digitalização de fichas do Dops, central de repressão da ditadura, causou revolta. Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, torturado e morto pelo regime militar, exigiu retratação de Alckmin.
Para Salles, a aversão à ditadura provoca reações exageradas com quem se diz abertamente de direita, como é o seu caso. "Nunca neguei que houve tortura", afirmou na semana passada.
Ele se disse contra todo tipo de autoritarismo, mas, "entre uma ditadura de esquerda e uma de direita, foi melhor para o Brasil ter tido uma de direita", opinou.
"As ditaduras de esquerda, mundo afora, foram muito mais sanguinárias. É uma questão de matemática. Pega a Rússia com Stalin, Cuba com Fidel Castro", comparou.
MENOS EMBATES
Salles assumirá a pasta de Meio Ambiente com a intenção de aproximar ambientalistas e o setor produtivo.
O secretário quer evitar embates para proteger "o único setor da economia brasileira que vai bem", a agricultura.
Para isso, defende que o tombamento da serra da Mantiqueira seja feito criteriosamente e não totalmente, como pedem algumas associações. Também argumenta que é necessário levar em consideração características regionais na hora de delimitar a proteção de mata ciliar em propriedades privadas.
O Código Florestal determina que as áreas de proteção sejam calculadas com base no tamanho do corpo d'água, mas ele disse que, em algumas propriedades, isso inviabiliza a produção.
O novo secretário, que já foi filiado ao PSDB e ao Democratas, manteve críticas ao Movimento dos Sem Terra, que, na sua visão, "não tem mais razão de existir".
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