Andrade Gutierrez tenta se antecipar à Lava Jato com auditoria de obras
Alexandre Rezende/Folhapress | ||
Complexo arquitetônico da Cidade Administrativa de Minas Gerais, que será investigada na auditoria |
Para tentar se antecipar à Lava Jato e evitar ser pega de surpresa, a empreiteira Andrade Gutierrez criou uma auditoria interna para apurar pagamentos de propina a agentes públicos, além de outras irregularidades envolvendo obras realizadas.
Entre os primeiros alvos da auditoria da empresa, que fez acordo de leniência com os investigadores, está a Cidade Administrativa, obra do arquiteto Oscar Niemeyer que abriga a sede do governo de Minas, em Belo Horizonte.
Inaugurada em 2010, a obra é a mais cara da gestão de oito anos do ex-governador e hoje senador tucano Aécio Neves (2002-2010), custando R$ 1,26 bilhão.
Segundo executivos da empresa, a apuração está dividida em duas etapas: antes e depois de a obra se iniciar.
A Cidade Administrativa apresenta, porém, uma dificuldade que outras obras delatadas, como a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e estádios de futebol não tinham: a maioria dos envolvidos no projeto não trabalha mais na Andrade Gutierrez.
Já é tido como certo entre os executivos do grupo que será um funcionário ou ex-funcionário até agora fora do grupo de delatores da empreiteira o responsável por falar sobre a obra mineira.
ALVO
A sede do governo mineiro se tornou alvo de apuração após advogados da empresa serem avisados por procuradores da Lava Jato que o grupo precisará complementar seu acordo de delação com informações sobre a obra.
O comunicado aconteceu há cerca de três semanas, mas até o momento nenhum colaborador falou sobre o tema.
Como a Folha revelou em junho, o sócio da OAS Léo Pinheiro acordou nas tratativas da delação que negocia com a Procuradoria-Geral da República que falará sobre pagamento de propina para auxiliares de Aécio Neves quando ele foi governador.
O repasse estaria associado à construção de um dos três prédios que integram a sede do governo, chamado Gerais. O tucano nega qualquer irregularidade.
A OAS integrou um consócio em conjunto com Odebrecht e Queiroz Galvão para erguer a obra. Já a Andrade participou de um consórcio com a Via Engenharia e a Barbosa Mello para fazer o edifício Minas. Ambos são anexos ao Palácio do Governo.
OUTROS FOCOS
A auditoria interna também apura informações de outras obras, como a Ferrovia Norte-Sul, um projeto cuja história de corrupção começa em 1987, com o acerto das empresas que ganhariam a licitação. O tema já foi citado na delação da Camargo Corrêa, que mencionou pagamento de propina para executar a construção.
Segundo executivos ouvidos pela Folha, serão levantadas informações de todas as construções que estiverem sob a mira da Lava Jato.
Representantes dos delatores nos acordos homologados em maio deste ano relataram que a Cidade Administrativa não foi alvo de questionamento nos depoimentos prestados à Lava Jato.
LENIÊNCIA
A atitude adotada pela empresa tem como finalidade assegurar o acordo que firmou com os procuradores.
Além dos funcionários que foram afastados depois de se tornarem delatores, a Andrade fechou um acordo de leniência no valor de R$ 1 bilhão para ser pago em em 12 anos, o mais caro fechado até o momento.
No mesmo mês que a leniência foi homologada pela Justiça, a empresa publicou em vários veículos um pedido público de desculpas e um manifesto com medidas que poderiam ser adotadas para trazer transparência ao mercado de construção.
No documento, a Andrade diz que reconhece que "erros graves foram cometidos nos últimos anos e, ao contrário de negá-los, estamos assumindo-os publicamente".
A empreiteira elogia as iniciativas da Lava Jato. "Acreditamos que a Lava Jato poderá servir como um catalisador para profundas mudanças culturais que transformem o modo de fazer negócios no país", diz a carta.
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