Filha de pivô do petrolão reclama que aliados do pai a abandonaram
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Danielle Janene ao lado do pai em seu casamento, em 2009 |
Danielle Janene diz que foi criada num conto de fadas. Filha do ex-deputado José Janene (PP-PR), um dos mentores do esquema revelado pela Lava Jato, ela lembra que nunca pagou uma conta, pois o pai não deixava. "Nem no verdureiro."
Mas a história mudou em 2010. Com a morte do político naquele ano, após problemas cardíacos, "faltou tudo", lamenta-se.
"As pessoas entraram em contato para falar de problemas. Nunca ninguém bateu na porta para falar: 'Olha, tem dinheiro esperando vocês ou alguma coisa boa'", afirma.
Hoje, Danielle alega falta de recursos e tenta fazer com que a Defensoria Pública cuide do inventário do pai, abandonado desde 2014.
Ex-presidente do PP, Janene é peça central na Lava Jato. O nome dele está presente em quase todos os relatos do Ministério Público Federal e em sentenças do juiz Sergio Moro.
Réu do mensalão, o político ajudou a montar o esquema com o doleiro Alberto Youssef na diretoria de Abastecimento da Petrobras, então comandada por Paulo Roberto Costa.
Danielle também é ré, acusada de ajudar a lavar cerca de R$ 1 milhão —com estimativa de danos de R$ 10 milhões— e de apropriação indébita da Dunel Indústria, que recebeu aporte do pai.
"Fui contratada [da empresa], mas nunca mexi com dinheiro, nunca participei do quadro social", diz Danielle.
No processo, parado desde março, ela é defendida pelo mesmo advogado de Youssef. A filha diz não saber onde foi parar a fortuna da Petrobras que teria ficado com o pai, mas afirma que será a primeira a denunciar caso descubra.
"Dinheiro não some, muda de mão. Só fiquei com o ônus, não tive o bônus", diz ela, afirmando que na Lava Jato "não há vítimas".
Ela se diz grata a quem "puxou seu tapete", o que "a fez abrir os olhos". Nunca estranhou ou questionou o pai sobre seus investimentos ou fontes de renda. "Não acredito que tenha um filho que questione o pai [sobre isso]."
'MORTO NÃO FALA'
Hoje, Danielle se diz convencida de que José Janene fazia parte do esquema na Petrobras. "Está difícil dizer o contrário. Mas ele não foi o mentor exclusivo e único beneficiado. Claro que há uma estratégia. Morto não fala."
Como filha, o sentimento é outro. "Bom ou mau, herói ou bandido, ele era meu pai. Não sou ingrata", diz, citando a indignação com a CPI da Petrobras ter cogitado exumar o corpo do político para confirmar a morte.
Mesmo admitindo a contradição, Danielle defende a Operação Lava Jato, que classifica como um "belo trabalho".
Diz guardar mágoas de Youssef, a quem se dirigia como "tio Beto". Segundo ela, quando o doleiro foi preso no escândalo do Banestado, em 2004, Janene ajudou os parentes dele.
"Acho que ele não teve essa consideração com a gente", diz, citando problemas financeiros e emocionais.
Dedicada à criação dos três filhos, Danielle diz que vive da renda de aluguéis de imóveis, em Londrina, no interior do Paraná.
Ela conta que faz terapia e que o processo desestruturou sua família.
"Não sei o que aconteceria se ele [Janene] estivesse vivo. Se estivesse preso, a situação estaria complicada, poderia até ser assassinado", diz ela.
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