Deputados rejeitam convocação de Geddel para se explicar na Câmara
Ueslei Marcelino/Reuters | ||
O ministro Geddel Vieira Lima em encontro com deputados, na segunda (22) |
O governo agiu durante toda a quarta-feira (23) para impedir as tentativas da oposição de convocar o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) para explicar a denúncia feita pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de que ele o teria pressionado a produzir um parecer técnico para liberar a construção de um prédio no qual adquiriu um apartamento.
O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), passou o dia visitando comissões para, em situação de perigo, garantir que a base se fizesse presente e derrotasse os requerimentos de convocação.
A estratégia do governo deu certo. Pela manhã, governistas rejeitaram requerimento de convocação de Geddel por 17 votos a três na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. À tarde, na Comissão de Cultura, repetiram o feito por 13 votos a cinco. Convites para Marcelo Calero também foram derrotados.
"Ele [Geddel] acha que não é nada demais prevaricar. Ele acha normal tentar mudar um parecer de um órgão público para fins pessoais", disse Jorge Solla (PT-BA).
"Se um ministro de estado não puder ligar para um colega seu para tirar uma dúvida ou tratar de qualquer assunto, vamos ficar reféns da política", afirmou Cacá Leão (PP-BA). "Tenho certeza absoluta que não houve crime nesta questão. O que tinha que ser dito já foi dito. Acho que a gente tem coisa mais importante para ser feita", completou.
Em votação simbólica, governistas também derrotaram outro requerimento apresentado por Solla, desta vez para que Calero fosse convidado à comissão.
Geddel Vieira Lima é investigado pela Comissão de Ética da Presidência da República. Em entrevista à Folha, ele reconheceu que tratou com Marcelo Calero sobre um projeto imobiliário na Bahia, mas negou que o tenha pressionado a produzir um parecer técnico para liberar o empreendimento.
Ele confirmou que, no ano passado, fez uma promessa de compra e venda de uma unidade no condomínio e afirma que, justamente por ter conhecimento do impasse imobiliário, tinha legitimidade para levar a questão ao então ministro da Cultura.
Nesta quarta-feira, a Folha revelou que parentes do ministro representam o empreendimento La Vue junto ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e que outros também compraram imóvel no local.
O jornal também mostrou que o conselheiro José Saraiva, integrante da Comissão de Ética da Presidência que foi indicado para o posto com o apoio do próprio ministro, é advogado da Ademi (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário) da Bahia, entidade que representa as construtoras na unidade da federação. Após a publicação, ele se declarou impedido de analisar o procedimento de investigação contra o ministro da Secretaria de Governo.
DEFESA
Apesar de não ser membro da comissão, o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), participou da sessão.
"O PT é um partido que não tem legitimidade nenhuma para apresentar um requerimento como este porque o PT é o responsável pelo maior escândalo de corrupção do país", afirmou Moura, para quem a denúncia contra Geddel é "pontual".
O líder passou as sessões ao telefone convocando deputados aliados a marcarem presença.
No dia anterior, Moura já havia liderado um grupo de líderes governistas que prestou apoio a Geddel. "Quero que me digam qual foi o crime praticado pelo ministro Geddel que até agora não consegui enxergar", disse o líder do governo ao orientar a votação da base na comissão.
BATE-BOCA
O deputado Wladimir Costa (SD-PA) fez uma série de xingamentos ao PT e ao deputado Paulão (PT-AL) na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. A confusão começou quando Costa falava contra o requerimento.
"A bancada do PT parece que sofre de 'Geddelfobia'. É o discurso do ódio. O ministro Geddel provoca sentimento de ódio no coração dos petistas fracassados. Quem é o PT para vir cobrar moralidade, ética?", provocou o deputado do Solidariedade.
"O PT nada mais é que uma grande organização criminosa. Vagabundos, desrespeitosos que vêm usar de ilações para atrair holofotes. Lave a boca com soda cáustica para falar do ministro Geddel. Seus imundos, irresponsáveis, desqualificados, despreparados", continuou.
Paulão reagiu e disse que Wladimir já havia sido preso. "Isso é um bandido!", bradou o petista.
O deputado pelo Pará, então, baixou o nível. "Preso foi a tua mãe, seu vagabundo! Só se foi a prostituta da tua mulher!", disse aos gritos.
Ainda há requerimentos de convocação de Geddel na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado.
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