Geddel decide deixar o cargo após agravamento de crise política
Alan Marques - 6.set.2016/Folhapress | ||
O ministro Geddel Vieira Lima |
O ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) decidiu pedir demissão após o agravamento da crise envolvendo seu nome, o presidente Michel Temer e o ministro Eliseu Padilha.
A carta com a decisão foi entregue a Temer na manhã desta sexta (25). Antes, Geddel comunicou a aliados que deixaria o cargo, entre eles alguns ministros e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
"Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair", escreveu Geddel.
"Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançados, mas o Brasil é maior do que tudo isso", ressaltou.
Na nota, Geddel diz que continuará torcendo pelo governo de Temer. "Capitaneado por um presidente sério, ético e afável no trato com todos", disse.
Geddel é o sexto ministro a deixar o governo Temer, que assumiu em maio. Antes saíram Marcelo Calero (Cultura), Henrique Alves (Turismo), Fábio Osório (AGU), Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência).
Ministros caídos do Governo Temer
Com sua demissão, Geddel perderá o foro privilegiado no STF (Supremo Tribunal Federal). Conforme a Folha informou, a Procuradoria-Geral da República já avalia pedir a abertura de um inquérito contra ele.
Geddel foi acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, em entrevista à Folha, de tê-lo pressionado a rever decisão do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) que impede a construção de um empreendimento imobiliário onde o ministro da Secretaria de Governo adquiriu apartamento.
Em depoimento à Polícia Federal, revelado pelo jornal, Calero disse ainda que o presidente Temer o "enquadrou" no intuito de encontrar uma "saída" para obra de interesse de Geddel.
Além de Temer e de Geddel, Calero implica também o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. O ex-ministro diz à PF ter recebido uma ligação de Padilha após uma conversa ruim com Geddel.
Leia a carta com o pedido de demissão:
*
Reprodução | ||
Carta de demissão de Geddel Vieira Lima |
Salvador, 25 de novembro de 2016
Meu fraterno amigo Presidente Michel Temer,
Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair.
Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançados, mas o Brasil é maior do que tudo isso.
Fiz minha mais profunda reflexão e fruto dela apresento aqui este meu pedido de exoneração do honroso cargo que com dedicação venho exercendo. Retornado a Bahia, sigo como ardoroso torcedor do nosso governo, capitaneado por um Presidente sério, ético e afável no trato com todos, rogando que, sob seus contínuos esforços, tenhamos a cada dia um país melhor. Aos Congressistas, o meu sincero agradecimento pelo apoio e colaboração que deram na aprovação de importantes medidas para o Brasil.
Um forte abraço, meu querido amigo.
GEDDEL VIEIRA LIMA
-
ENTENDA O CASO
Fev.2014
Projeto de construção La Vue é submetido ao Iphan. Escritório Técnico de Fiscalização, formado por Iphan, governo da Bahia e Prefeitura de Salvador, emite laudo afirmando não ser favorável ao empreendimento por seu impacto paisagístico
Out
Órgão que emitiu laudo contrário ao La Vue é extinto pelo Iphan
Nov
Coordenador-técnico do Iphan na Bahia, Bruno Tavares, discorda do laudo e emite parecer liberando o empreendimento. Liberação se dá com base em um estudo interno sem valor legal, que delimita área de proteção ao patrimônio no bairro da Barra
Mar.2015
Prefeitura de Salvador libera alvará com base no parecer do Iphan. Obras são iniciadas e apartamentos começam a ser vendidos
Jul
Vereadores de Salvador criticam empreendimento e Geddel rebate, defendendo o edifício nas redes sociais
Set
Instituto dos Arquitetos do Brasil entra com ação civil pública questionando a obra na Justiça
Mai.2016
Após análise do empreendimento, Iphan nacional conclui que edifício é incompatível com a região em que está sendo erguido. Familiares de Geddel assinam procuração e passam a representar empreendimento junto ao Iphan
Nov
Procuradoria recomenda paralisação do empreendimento. Iphan decide embargar a obra
18.nov
Ministro da Cultura, Marcelo Calero, pede demissão; à Folha, afirma ter sido pressionado por Geddel
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade