Delator do caso de Ribeirão diz ter-se arrependido de delitos
Joel Silva - 2.dez.2016/Folhapress | ||
A prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera(PSD), deixa a sede da PF em Ribeirão após ser presa |
Delator na investigação que levou à prisão a prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera (PSD), o ex-presidente do Sindicato dos Servidores Wagner Rodrigues disse que decidiu colaborar por ter-se arrependido de delitos.
As afirmações foram feitas por meio de uma carta divulgada por seu advogado, Daniel Rondi. Rodrigues foi candidato à prefeitura pelo PC do B –ficou na oitava posição, entre nove candidatos, com 2,18% dos votos válidos.
No documento, ele disse que o "arrependimento é a chave que abre qualquer fechadura" e que decidiu contribuir "de forma eficaz" com a Justiça.
A Operação Sevandija, que apura fraudes em contratos da prefeitura que somam R$ 203 milhões, foi deflagrada em 1o de setembro e, cinco dias depois, Rodrigues foi alvo de condução coercitiva. Foi quando decidiu pela delação, detalhou o esquema e forneceu provas documentais.
"Errei, porque aceitei a possibilidade de ser remunerado pela pessoa que seria a mais favorecida, a ex-advogada do sindicato", diz trecho da carta.
A apuração apontou pagamento ilegal de honorários à advogada Maria Zuely Alves Librandi, a partir de documentos fornecidos por Rodrigues.
A origem da suspeita está em acordo judicial que resultou no parcelamento de R$ 800 milhões a serem pagos a servidores devido a perdas decorrentes do Plano Collor. Já foram pagos mais de R$ 300 milhões, além de R$ 45 milhões em honorários –que, para a Promotoria, são indevidos e resultado de fraude.
A advogada teria repassado, de 2013 a este ano, mais de R$ 5 milhões a outros envolvidos –por isso, a segunda fase da operação foi intitulada Mamãe Noel.
Maria Zuely também foi presa sexta, assim como Sandro Rovani, ex-advogado do sindicato, e Marco Antônio dos Santos, ex-secretário de Administração.
Na carta, ele disse ainda que o acordo não foi prejudicial a todos os servidores. A operação, porém, afirma que o prejuízo aos funcionários públicos chega a R$ 120 milhões. "Revelei tudo o que foi de interesse da Justiça. Arrependido aceitarei e cumprirei a decisão que me for imposta pela Justiça."
Após a denúncia feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), a Justiça decidiu afastar Rodrigues do sindicato -por uso da entidade para desviar dinheiro- e do cargo que exercia na prefeitura.
Ainda conforme a denúncia, o esquema resultaria em R$ 7 milhões à prefeita e R$ 2 milhões ao ex-secretário Santos, além de R$ 11,8 milhões para Rodrigues e Rovani dividirem.
OUTRO LADO
Advogada da prefeita, Maria Cláudia Seixas disse na última sexta (2) que Dárcy conseguirá provar sua inocência e descartou a possibilidade de que ela faça delação premiada.
"Isso [delação] é procedimento natural de situações como essa, mas a princípio isso não existe, pelo menos da parte da Dárcy Vera. Não é que está descartado, isso já foi decidido, isso não interessa à Dárcy", disse, em coletiva.
Segundo ela, todas as vezes em que Dárcy foi intimada compareceu para prestar depoimento. "Ela forneceu, indicou, entregou todos os documentos que havia em sua disponibilidade. Não se furtou a nenhum tipo de esclarecimento dentro do procedimento que está em trâmite na Procuradoria."
A advogada sempre afirmou, desde o surgimento das denúncias, que Dárcy nega ter recebido o dinheiro da propina e que ela colabora com as investigações.
Os outros três presos na segunda-fase da operação já tinham sido detidos na etapa inicial. Seus defensores também negam elo com irregularidades.
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