Marta reclamou de ter campanha mais cara que Gleisi Hoffmann, diz Santana
Em depoimento de seu acordo de delação premiada, o marqueteiro João Santana afirmou que a senadora Marta Suplicy, hoje no PMDB, se queixou de o marqueteiro ter exigido dela um valor maior que o pago pela colega Gleisi Hoffmann (PT-PR) na campanha municipal de 2008.
"Aí a Mônica [Moura, mulher do marqueteiro] disse que tempos depois ela deu uma cobrança firme: 'Como pode, três vezes mais caro?'", relatou.
Segundo o marqueteiro, a campanha de Gleisi à Prefeitura de Curitiba em 2008 custou R$ 6 milhões —dos quais R$ 4,625 milhões pagos por meio de caixa dois. A de Marta, R$ 18 milhões— R$ 10,5 milhões deles pagos por fora.
Mônica também mencionou o episódio em sua delação. "Teve uma vez, a gente no camarim fazendo maquiagem para gravar, e ela perguntou: 'por que que a minha campanha é tão cara?'. Eu imaginei pelo comentário dela que ela sabia valores da Gleisi. Aí eu falei pra ela que qualquer campanha em São Paulo é sempre mais cara."
Segundo Santana, tanto Gleisi quanto Marta tinham "pleno conhecimento" de que essas parcelas seriam pagas por meio de caixa dois.
"Nós temos nos referido a um fundo de caixa dois do PT coordenado pelo ex-ministro Antonio Palocci. Queria frisar que ele também serviu pra pagar as dividas das campanhas da senadora Marta Suplicy e da senadora Gleisi Hoffmann. Nos dois casos com pleno conhecimento das candidatas", diz.
Sérgio Lima - 9.jun.2011/Folhapress |
Gleisi Hoffmann com Marta Suplicy no plenário do Senado Federal em 2011 |
Ele disse que Marta, quando foi convidá-lo para fazer a campanha, levou Palocci "a tira colo" para mostrar que o petista, que controlava a planilha Italiano —com recursos da Odebrecht— ficaria responsável pelos pagamentos.
Santana diz ainda, sem detalhar, que Marta acreditava que o compromisso do PT com sua candidatura vinha de uma "dívida histórica" pelo a"apoio financeiro" à campanha de Lula em 2002 que ela havia dado "durante o período que ela era prefeita".
O marqueteiro diz que acertou fazer a campanha de Gleisi também em encontro do qual participou Palocci e o marido da petista, o ex-ministro Paulo Bernardo.
CABIDE DE EMPREGO
Santana também disse que, a pedido de Marta, contratou o marido dela à época, Luis Favre, por R$ 20 mil mensais.
"Nós fizemos um contrato simulado com ele a pedido da senadora", contou.
"Não saía do nosso dinheiro. Vinha desse dinheiro do Palocci um extra para pagar [Fravre] durante um ano", disse Mônica. "O argumento usado foi o seguinte: o Favre é estrangeiro, ele não tem renda oficial nenhuma, ele não pode comprar uma bicicleta se ele quiser no nome dele. A ideia dela era dar um rendimento oficial a ele para ele ter um dinheiro branco."
A DELAÇÃO DO CASAL - Acusações de João Santana e Mônica Moura ao Ministério Público Federal
Ele disse que, certa vez, demonstrou preocupação e foi tranquilizado por Marta: "Não se preocupe. O Favre, pelo currículo internacional, você pode dizer que ele fez consultoria para suas campanhas no exterior", disse a senadora, segundo Santana. "Nunca fez, nunca trabalhou."
Ele disse ter conhecimento também que o mesmo procedimento foi usado na campanha de 2004, quando Marta tentou a reeleição.
OUTRO LADO
Procurada na quinta-feira (11), quando os termos escritos da delação foram divulgados, Marta disse estar "indignada".
"É uma mentira deslavada", respondeu a senadora, em nota enviada à imprensa.
"[É] certamente motivada para envolver o maior número de pessoas com um único objetivo: ter o que barganhar para obter impunidade nos crimes em que são acusados. Jamais participei ou tive conhecimento de negociações ilegais. Minha conduta sempre foi e está baseada nos princípios éticos que norteiam toda a minha vida.
A Folha ainda não conseguiu contato com a assessoria de Gleisi.
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