Aceno a Alckmin traz leitura de cenário e necessidades de Temer

Crédito: Marlene Bergamo - 2.dez.2017/Folhapress PODER - O Presidente Michel Temer, acompanhado do Governador Geraldo Alckmin e dos Ministros Henrique Meirelles, Moreira Franco e Alexandre Baldy, durante entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida. Limeira -SP - 02/12/2017 Foto: Marlene Bergamo/FolhaPress -017
Geraldo Alckmin, Michel Temer e Henrique Meirelles durante entrega de casas no interior de São Paulo

IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

Há duas versões de Michel Temer (MDB) embutidas na declaração de amor à candidatura do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) à Presidência, porque não é muito menos que isso o sentido de sua entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" nesta quinta (11).

A primeira é a do analista político que enxerga com clareza o que está acontecendo no entorno do governismo, fazendo lembrar dos tempos em que Temer era famoso por isso —os sucessivos erros à frente da Presidência tisnaram-lhe essa imagem.

Aqui, o presidente vê a tentativa de uma candidatura de Henrique Meirelles como prejudicial ao andamento da política econômica e pesa a movimentação de Rodrigo Maia pelo que ela é: uma forma de aumentar o seu cacife e o do DEM no jogo eleitoral de 2018. Claro, estando no Brasil, o proverbial grão de sal da expressão inglesa é necessário em qualquer análise do tipo, mas por ora é isso.

O segundo Temer é o presidente que luta de forma encarniçada não só pelo seu mandato,hoje assegurado, mas também por algum tipo de marca. E aqui assombram o emedebista o assanhamento de Meirelles e Maia em torno do tema presidencial, além do crescente distanciamento do PSDB da órbita do Planalto.

Na questão do embate entre o ministro da Fazenda e o presidente da Câmara, o que está em jogo é justamente a área em que o governo logrou seus principais sucessos, a economia. Temer não quer emular totalmente José Sarney e terminar amarrado seu mandato. É um risco bem real, ainda mais com os aliados governistas em disputa por espaço político.

Sobre os tucanos, presidente sabe que precisa do apoio mínimo deles para tocar o que sobra de seu termo, e nem se fala aqui de reforma da Previdência, algo já precificado como assunto para 2019 pelo mercado. Assim, pisca com elogios para Alckmin e, reassumindo o hipotético papel de analista isento, descreve uma candidatura "ideal" ao Planalto muito próxima ao perfil vendido pelo presidente do PSDB e seus estrategistas.

Com suas declarações, Temer consolida um diagnóstico governista já colocado na praça por seus ministros Gilberto Kassab (PSD) e Carlos Marun (MDB), favorável à leitura tradicional de que a gravidade tende a assentar o cenário político dessas forças em torno de Alckmin. Mesmo que não se traduza numa aliança formal, que garantiria generosas inserções e tempo de TV, além de fundo partidário, a capilaridade regional que acertos com o MDB é bastante tentadora ao PSDB.

Contra o governador paulista, a persistência do único dígito nas pesquisas eleitorais, o que pode advir da Lava Jato e a enorme incerteza sobre o status jurídico da campanha, com ou sem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) montado sobre liminares. Seus estrategistas acreditam que até abril, quando ele deve se desincompatibilizar já tendo presumivelmente vencido as prévias internas no PSDB, o horizonte estará algo desanuviado.

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