Lavagem do Bonfim dá largada a corrida eleitoral na Bahia

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JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR

Em cima do átrio da Igreja da Conceição da Praia, em meio a um culto ecumênico, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), sapeca um beijo numa baiana vestida a caráter que equilibra um jarro branco com água de cheiro na cabeça.

ACM Neto (DEM), prefeito de Salvador, está ao lado do petista, mas os dois mal se olham. Bate palmas, abre um sorriso e canta o hino ao Senhor do Bonfim.

Do lado de fora da igreja, petistas e democratas estão a postos, cercados de bandas de sopro e percussão. Fogos de artifício estouram: é hora de começar o cortejo, dando a largada à 245ª Lavagem do Bonfim.

Em ano eleitoral, a mais tradicional festa popular da Bahia ganha fortes contornos políticos. Além de servir de termômetro de popularidade, é hora de botar o bloco na rua e fustigar o adversário.

Rui Costa (PT) e ACM Neto (DEM), prováveis adversários na disputa pelo governo da Bahia este ano, seguem o rito e desconversam sobre eleição, na linha do "hoje é dia de fé, não de política".

Prefeito, o senhor será candidato? "Só Deus e o Senhor do Bonfim sabem", diz. Governador, vai rezar por mais quatro anos no governo?: "Vou pedir para o Senhor do Bonfim nos abençoar".

Mas, em cada um dos oito quilômetros de caminhada até a Basílica do Bonfim, a postura é de um candidato em campanha. Abraços, beijos e selfies com eleitores a cada passada, tudo devidamente registrado nas redes sociais. Atrás, um séquito de assessores, secretários e correligionários.

Até mesmo a Colina Sagrada virou alvo de disputa. Na véspera da festa, o governador anunciou uma reforma na rede elétrica da Basílica do Bonfim. Já o prefeito mostrou um projeto para requalificar todo o entorno do templo religioso, criando uma espécie de "corredor da fé".

PROVOCAÇÕES

No trajeto até o Bonfim, não faltam provocações de lado a lado. "Golpista, golpista", ensaiou um grupo de petistas ao avistar o prefeito ACM Neto. "Fora PT", grita outro ao avistar a militância do partido, que seguia à frente de uma banda de percussão.

No bloco petista, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), vem ladeada de deputados baianos e veste uma camisa em apoio a Lula: "Bonfim pela Democracia. Cadê a prova?". Militantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores) endossavam a manifestação com uma faixa: "Somos todos Lula"

Principal ausente da festa, encarcerado na Penitenciária da Papuda, Geddel Vieira Lima (MDB) vira alvo de um jogo de empurra entre os dois grupos políticos. Cada qual jogando o ex-ministro e suas malas de dinheiro para o colo do adversário.

O deputado federal João Gualberto (PSDB), que há três anos o apoiou na corrida ao Senado, disparou: "A relação de Geddel, todo mundo sabe que é com o PT. A relação umbilical dele é com o PT". Os petistas, que romperam com o emedebista há sete anos, gargalham.

O irmão de Geddel, deputado Lúcio Vieira Lima (MDB), foi ausência notada, mas não necessariamente sentida por aliados que gostariam de evitar uma foto ao seu lado a qualquer custo.

Ao final da caminhada, petistas, democratas e seus aliados sobem a Colina Sagrada até as escadarias da Basílica do Bonfim, encerrando o cortejo.

O governador é recebido aos gritos: "Rui é correria, Rui é correria". O prefeito é cercado por um grupo de percussionistas que entoam "Neto chegou", remontando a um grito de guerra das arquibancadas.

Com as torcidas a postos, são cercados por baianas e recebem o tradicional banho de água de cheiro na cabeça. E rezam para Oxalá e Senhor do Bonfim, para que daqui a um ano, com a vitória nas urnas, voltem a ser os protagonistas da festa.

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