DANIELLE BRANT
DE SÃO PAULO

A confirmação da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por unanimidade pelos juízes do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) é esperada por analistas e economistas do mercado financeiro ouvidos pela Folha.

O esboço de dúvida, como no caso de um 2 x 1, já seria suficiente para ter impacto negativo em Bolsa e dólar.

O cenário mais provável e que já estaria contemplado no recente histórico de recordes da Bolsa brasileira é o de ratificação da sentença redigida pelo juiz Sergio Moro em julho de 2017.

"O movimento positivo na Bolsa desde o começo do ano tem um componente de exterior e a percepção do mercado de que viria uma condenação por 3 x 0, que dificultaria a candidatura de Lula", diz Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências.

Para ele, a queda de 1,2% da Bolsa brasileira nesta terça (23) seria uma antecipação do resultado de quarta, com os investidores preferindo embolsar os lucros antes de a condenação ser confirmada pelo TRF-4.

Ronaldo Patah, estrategista de investimentos do UBS Wealth Management, também considera que uma parte da alta da Bolsa no ano contabiliza o cenário de uma disputa sem o ex-presidente, mesmo com a incerteza envolvendo a judicialização das eleições.

"Entre o 3 x 0 e o 2 x 1, claramente o mercado tem um viés de acreditar mais em um resultado unânime. Se a decisão do Moro for referendada, o impacto positivo na Bolsa e no dólar tende a ser menor que o reflexo negativo de um 2 x 1", afirma.

É a mesma avaliação de José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. "Uma decisão dessas abriria um leque maior de opções para o ex-presidente recorrer. Mesmo que seja 3 x 0, ainda existe espaço para recurso. Pode ser que isso não acabe amanhã. O assunto não está esgotado"

LULA INOCENTE

A única carta fora do baralho é a absolvição de Lula. Se isso acontecesse, dia Patah, toda alta recente da Bolsa, a valorização do real e a queda dos juros seria revertida. "Pode ter um movimento de saída de investidores estrangeiros também. É um cenário inesperado", afirma.

"O que não significa que o mercado também não comece a dizer que o Lula é legal, é paz e amor, e a Bolsa possa voltar a subir depois de dois ou três dias de queda."

Esse quadro, porém, traria mais volatilidade ao mercado ao longo do ano, complementa Patah. "Tem muita gente, não só do mercado, mas da economia real, que tem muito medo do Lula. Os empresários tendem a segurar investimentos num eventual governo Lula."

Gonçalves, do Banco Fator, vê também a absolvição do petista como improvável.

"Os mercados ficam mais tranquilos se o Lula estiver fora do jogo."

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