Candidatura de Marina independe de condenação de Lula, diz Randolfe

Crédito: Pedro Ladeira - 26.abr.2017/Folhapress 26.01.2018 Silvio Santos recebe o presidente da República Michel Temer no programa deste domingo (28). Foto: SBT DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
O senador Randolfe Rodrigues, da Rede

DANIEL BUARQUE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em segunda instância e a possível proibição da sua candidatura à Presidência não alteram os planos da Rede Sustentabilidade para a eleição, segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Em entrevista à Folha após uma palestra em Londres, Rodrigues disse que seu partido não está levando em consideração a situação do ex-presidente ao montar o projeto de governo da candidatura de Marina Silva.

"Não estamos fazendo cálculo para a eleição em cima da condenação", disse. "Marina é candidata a presidente com Lula no cenário político e sem Lula no cenário. Estando ele ou não, Marina vai ser candidata", disse.

Segundo o senador, a candidatura da Rede vai propor a superação da atual disputa política que vigora no país. "O PT e o PSDB têm que passar por um período sabático do poder. São quase 16 anos de experiências dos dois no poder. Eles tiveram contribuições importantes, mas construíram uma lógica de apropriação do poder pelo poder", afirmou.

Rodrigues discursou na abertura da Brazil Week, semana de eventos culturais e acadêmicos voltados ao país no King's College de Londres. Apresentado não apenas como senador, mas também como historiador, ele aproveitou a sua fala para traçar a história política do Brasil desde a Proclamação de República –um "golpe militar", disse– até os problemas mais recentes enfrentados pelo país.

Segundo ele, a política brasileira precisa passar por uma renovação, e o ex-presidente Lula deveria dar o exemplo ao apoiar um novo candidato pelo seu partido.

"Uma eleição presidencial que tem de novo Lula e Collor como candidatos é um ambiente de dèja vu, de flashback, não renova a política. O presidente Lula teve uma contribuição importante para a inclusão social no Brasil e poderia dar uma grande contribuição ainda maior patrocinando e apoiando a possibilidade da renovação da política do país", disse.

JULGAMENTO

O senador criticou a forma como foi conduzido o processo que levou à condenação em segunda instância de Lula, mas disse que a postura do PT após a decisão do TRF-4 é nociva à democracia brasileira.

"O presidente Lula foi vítima de um processo inadequado para alguém que não me parece inocente", declarou. "Os elementos, as acusações contra o ex-presidente, são muito fortes, mas a forma como o processo foi conduzido abre espaços para incompreensões, para enfraquecimento da democracia e para a radicalização."

O senador disse, entretanto, que "não chegaria a afirmar que [o processo] não tem provas" contra o ex-presidente.

Segundo Rodrigues, o problema foi a condução do processo, "a celeridade com que foi colocado o julgamento, não me parece adequada", disse. "O processo foi conduzido erradamente. Provas precisariam de tempo para serem analisadas, e acho que não houve esse tempo para deixar claro, para que fossem formadas convicções por parte dos juízes, para que fossem analisadas as provas", afirmou.

Ainda assim, segundo ele, o PT precisa aceitar o julgamento. "O fundamental é que o PT tem que entender que, em uma democracia, ninguém está acima da lei. O caminho escolhido pelo PT, de ataque às instituições, de se colocar acima do bem e do mal, é muito ruim para a democracia. O caminho, mesmo que o processo seja injusto, não pode ser de se colocar acima da lei, acima das investigações, afrontar qualquer tipo de investigação. Esse procedimento só radicaliza o cenário político e não contribui para a democracia", disse.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.