Dois dias após o governador Geraldo Alckmin (PSDB) deixar o governo de São Paulo, na última sexta (6), a força-tarefa da Operação Lava Jato nesse Estado pediu ao vice-procurador da República que as investigações sobre supostas propinas pagas ao tucano deixem de ser feitas no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e passem a ser tocadas na primeira instância, em São Paulo.
O argumento da força-tarefa é que, ao abdicar do cargo de governador, Alckmin deixou de ter foro especial, pelo qual só poderia ser investigado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
A transferência da investigação para São Paulo depende de decisão do STJ. Alckmin deixou o cargo para disputar a Presidência pelo PSDB.
O inquérito aberto no STJ em novembro do ano passado investiga se Alckmin recebeu R$ 10,7 milhões da Odebrecht, como contou a empresa em seu acordo de delação.
Parte do montante teria sido entregue ao cunhado de Alckmin, o empresário Adhemar César Ribeiro.
Os valores teriam sido entregues em 2010 e 2014 para campanhas eleitorais, ainda de acordo com os delatores da Odebrecht.
A narrativa da suposta propina foi feita por três executivos da empreiteira: Benedicto Junior, Carlos Armando Paschoal e Arnaldo Cumplido de Souza e Silva.
Paschoal, conhecido como CAP, disse ter dado R$ 2 milhões ao cunhado de Alckmin em 2010 e contou que o suposto acerto envolveu diretamente o tucano.
CAP afirmou que esteve com Alckmin e, depois de citar de citar um outro intermediário, o tucano entregou um cartão do cunhado para ele com a orientação de que podia acertar com ele o que havia sido combinado.
Benedicto Jr. afirmou na delação que a Odebrecht fez os pagamentos ilícitos em troca de favores em obras do Metrô e de saneamento.
No ofício encaminhado ao vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, que atua nos casos do STJ, a equipe da Lava Jato em São Paulo pede que ªas investigações sob atribuição de Vossa Excelência sejam encaminhadas a esta força-tarefa com urgência, tendo em vista o andamento avançado de outras apurações correlatas sob nossa responsabilidadeº.
No mesmo dia em que Alckmin deixou o governo, a Polícia Federal prendeu o engenheiro Paulo Veira de Souza, conhecido como Paulo Preto e acusado de ser arrecadador de recursos ilegais para campanhas tucanas em São Paulo.
Os procuradores da Lava Jato têm criticado o foro privilegiado com a alegação de que as investigações em tribunais superiores são mais lentas do que na Justiça de primeira instância, o que resulta em impunidade porque os crimes acabam prescritos.
OUTRO LADO
O tucano já negou enfaticamente que tenha recebido recursos ilegais da Odebrecht.
O advogado de Alckmin, José Eduardo Alckmin, primo do ex-governador, disse aguardar a apuração e opinou que o caso deve ser tratado pela Justiça eleitoral por se tratar de suposto caixa dois para campanhas políticas, não de crime.
A Folha não conseguiu localizar a defesa do cunhado.
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