Descrição de chapéu Eleições 2018

Após críticas, Bolsonaro e Haddad recuam sobre fazer nova Constituição

Liberado por Lula, petista ajusta táticas com concessões ao centro; candidato do PSL vai reforçar uso de redes sociais e discurso anti-PT

Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que disputam o segundo turno da eleição presidencial
Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que disputam o segundo turno da eleição presidencial - Ricardo Moraes e Paulo Whitaker - 7.out.2018/Reuters
Brasília e São Paulo

Levados ao segundo turno da eleição presidencial, os candidatos do PSL, Jair Bolsonaro, e do PT, Fernando Haddad, recuaram e descartaram a controversa ideia de fazer uma nova Constituição para o país.

Enquanto o petista vai recalibrar a estratégia da campanha e acenar ao centro, seu adversário fortalecerá as táticas que lhe renderam 46% dos votos no primeiro turno.

Bolsonaro se preocupou, em entrevista ao Jornal Nacional nesta segunda (8), em enfatizar que respeita o voto popular e que desautorizou seu vice, general Hamilton Mourão, por ter dito que ele considerava convocar uma Constituinte escrita por notáveis e achava razoável a hipótese de um autogolpe contra o Congresso.

"Ele deu uma canelada. Eu o desautorizei", disse Bolsonaro sobre o vice, cujo nome errou duas vezes ("Augusto"). "Ele é general, eu sou capitão, mas o presidente serei eu."

Bolsonaro ainda acenou ao Nordeste e aos mais pobres, campos em que o PT leva vantagem, e afirmou que não acabará com o Bolsa Família.

O PT, por sua vez, fez um gesto significativo ao eleitorado de centro que teme ver Haddad tutelado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado por corrupção.

Nesta segunda (8), o candidato foi liberado pelo padrinho de visitá-lo semanalmente na sede da Polícia Federal em Curitiba, onde cumpre pena, e reduziu o número de citações a seu nome em entrevistas.

A correção de rota petista deve ser mais drástica do que a de Bolsonaro, a fim de buscar ampliar a base de 29,3% dos votos recebidos no domingo. A avaliação da campanha, porém, é que perfazer a diferença será "muito difícil".

Após receber Haddad nesta segunda, Lula o autorizou a revisar pontos do programa de governo em busca de alianças. Assim foi descartada a instalação de uma Assembleia Constituinte, criticada.

Indagado em entrevista no Jornal Nacional desta segunda sobre a possibilidade de nova Constituição, Haddad declarou que o PT "reviu o posicionamento" e que eventuais mudanças se darão somente com emendas à atual.

Lula orientou o discípulo a ir à rua fazer campanha e deu carta branca para que firme sua identidade e converse com diversos partidos --inclusive com lideranças do PSDB como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem tem boa relação. 

A ideia é que os acordos formais se deem entre siglas de esquerda e centro-esquerda, como PDT, PSB e PSOL, mas haja espaço para uma frente em defesa da democracia. O ex-adversário Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado, pretende anunciar nesta quarta "apoio crítico" ao petista.

Após se reunir com Haddad e o comando da campanha em São Paulo, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que as visitas de Haddad a Lula dependerão da dinâmica de campanha: "Temos menos de 20 dias. Não sei qual será o tempo e a disposição para isso. Se for possível, ele vai; se não, vai fazer campanha".

Para articular o arco de diálogo, a campanha de Haddad incorporou nesta segunda o senador eleito pela Bahia Jaques Wagner. Com bom trânsito entre políticos, empresários e integrantes das Forças Armadas, o ex- ministro da Defesa de Dilma Rousseff buscará diferentes setores e tentará esfriar os ânimos no PT.

Uma ala importante da coordenação defende que o eixo do segundo turno seja o debate econômico, com a radicalização do discurso e sem acenos ao mercado, enquanto o grupo próximo a Haddad quer movimentos para ampliar o apoio, inclusive com empresários e investidores.

A campanha se preocupa também em buscar o eleitor lulista que migrou para Bolsonaro. Daí a ênfase no discurso para o eleitorado mais pobre. 

Mas ainda não encontrou antídoto eficaz para combater as notícias falsas contra o petistas que circulam nas redes e quer reforçar essa área. 

No campo de Bolsonaro, a estratégia das redes sociais é vista como acerto —o ponto forte do candidato, segundo seu filho, o senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ). O capitão pretende fortalecer a comunicação nessas plataformas e o discurso intensamente antipetista que o ajudaram a triunfar no primeiro turno.

À parte o aceno aos resultados das eleições feito na noite de segunda, as concessões da campanha devem se limitar à participação em debates após se recuperar do atentado a faca sofrido em 6 de setembro.

No primeiro turno, Bolsonaro foi aos dos dois primeiros, até ser posto em licença médica, e evitou o último, ocorrido após ter alta. Ele passará por avaliação médica nesta quarta (10), véspera do primeiro debate do segundo turno.

Bolsonaro também já passou a usar a seu favor o discurso da governabilidade. Ao longo do primeiro turno, uma das fragilidades do candidato era a falta de apoio no Congresso. Com os resultados do domingo, seu PSL passará de 7 vagas para 52, a segunda bancada da Câmara, atrás do PT, com 56.

"Para quem falava que eu não teria governabilidade, temos a segunda bancada física na Câmara, além de outros parlamentares que têm compromisso de nos ajudar na governabilidade", afirmou em entrevista às rádios Bandeirantes e Jovem Pan.

Conselheiros da campanha também avaliam que não é hora de apresentar propostas e que a maioria do eleitorado busca um antagonista para a velha política capturada pelos escândalos de corrupção. 

"[Plano de governo] é uma empulhação que marqueteiro ensinou para todos no Brasil", disse o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), futuro ministro da Casa Civil num eventual governo do PSL. Segundo Lorenzoni, a eleição no dia 28 será definida entre "o passado do Lula e a a esperança de um futuro, que o Bolsonaro é".

A campanha do PSL tem minimizado as alianças no segundo turno e dito que todo apoio que não vier de corrupto ou da esquerda é bem-vindo.

Bolsonaro tampouco deve rever significativamente seu discurso —além do antipetismo, questões como a confiabilidade das urnas eletrônicas, a moralização e o combate à corrupção são a ênfase.

Embora alguns aliados defendam que ele suavize o tom, outros afirmam que isso poderia alterar algo que atraiu muitos eleitores: a polarização como PT. "A gente não precisa conquistar voto de ninguém, só precisa mostrar quem é o PT", disse o presidente do PSL, Gustavo Bebianno.

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