Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Retraído, Carlos Bolsonaro se torna pitbull do pai nas redes sociais

Nas poucas vezes em que o vereador discursa, defende o pai e critica a oposição

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Rio de Janeiro

O segurança parado em frente à porta do gabinete revela a presença do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), 36. 

Segundo dos cinco filhos do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), Carlos afastou-se temporariamente da Câmara Municipal do Rio durante a campanha presidencial do pai. Desde seu retorno, no final de novembro, tem sido visto na Casa sob proteção constante.

Na porta, diversas colagens formam um “Mural da verdade”. Uma das imagens mostra um boneco de Pinóquio, de terno, segurando pelo nariz um cartaz da Comissão Nacional da Verdade, responsável por investigar violações dos direitos humanos levadas a cabo durante a ditadura militar. 

O mural se assemelha às publicações de Carlos nas redes sociais, nas quais costuma manifestar opiniões polêmicas sobre temas de cunho ideológico, rechaçar a imprensa (“lixo manipulador”) e desautorizar aliados do pai. 

Com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, o filho do presidente parece ter entendido os mecanismos para obter sucesso nesta seara. Ele foi responsável pela estratégia de comunicação nas redes que ajudou a eleger o pai.

O vereador mantém forte proximidade com o presidente eleito. Com frequência o acompanha em viagens e agendas, ficou ao seu lado no hospital, quando se recuperava da facada da qual foi vítima durante a campanha, e mora em uma casa no mesmo condomínio, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. 

No braço, Carlos tem uma tatuagem com o rosto de Jair.

No aniversário do vereador, o Instagram do presidente eleito publicou uma extensa homenagem ao filho. “Ao longo de meus 23 dias no hospital, continuou comandando minha campanha via internet, dormindo no sofá e sendo uma balança para meu estado emocional e profissional”, dizia o texto. 

Tanta proximidade, no entanto, tem preocupado a equipe de Bolsonaro, conforme noticiou a colunista Mônica Bergamo. 

O vereador já teve atritos, mesmo públicos, com aliados do pai e costuma dizer, nas redes sociais, que alguns tentam aparecer às custas do presidente. 

Em uma postagem no Twitter, Carlos escreveu que a morte de Jair não interessa somente aos inimigos declarados, mas também aos que estão muito perto. 

Ao parabenizar nas redes ministros escolhidos pelo pai, o vereador completou: “Deixo aqui meus parabéns aos envolvidos que não procuram holofotes ou benesses, apenas o melhor e ponto!”.

À reportagem, um de seus desafetos diz que Carlos é uma “pessoa difícil”, que busca “protagonismo constante” e que tem boas relações apenas com os que se submetem a ele.

Ao final de novembro, Carlos chegou a ser aventado pelo próprio pai para ministro da Secom (Secretaria de Comunicação). 

A possibilidade foi enterrada quando Bolsonaro desistiu de devolver à secretaria o status de ministério —a pasta será abrigada pela Secretaria de Governo.

À época, Carlos anunciou nas redes sociais que havia deixado de administrar a página do pai e que retornaria aos trabalhos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Ele foi eleito vereador em outubro de 2000, aos 17 anos de idade. Sua candidatura foi lançada pelo pai, com o objetivo de frustrar a reeleição da própria mãe, Rogéria, à época separada de Jair. Hoje, o ex-casal tem boa relação.

Na Câmara, Carlos é visto por seus pares e suas equipes como alguém calado, que não gosta de ir à tribuna proferir discursos. 

Um vereador disse à Folha que Carlos está no rol dos parlamentares “Hello Kitty” —aqueles que não têm boca.

Nas poucas vezes em que o filho do presidente discursa, o faz para defender o pai, falar sobre temas como a chamada “ideologia de gênero” ou criticar a oposição, em especial parlamentares do PSOL. 

“Deixo claro aqui, senhor presidente, mais uma vez, meu repúdio às falas do vereador Renato Cinco, e acho que, em seu baseado, tem muito estrume de cavalo”, disse em 2015 após rusga com o vereador socialista. 

Desde que assumiu o mandato, Carlos foi autor ou coautor de 42 projetos. Um deles, assinado sozinho, tem como objetivo incluir o “Dia do Orgulho Heterossexual” no calendário oficial de datas comemorativas da cidade.

“A minha intenção ao apresentar a matéria em questão é, simplesmente, o de homenagear os padrões de afetividade responsáveis pela existência de todos nós neste planeta”, escreveu na justificativa.

Outro advoga pela criação do Escola sem Partido nas escolas municipais, tema caro para o clã Bolsonaro. Um terceiro veta a distribuição de materiais didáticos sobre a diversidade sexual no ensino fundamental do município. 

Segundo colegas, Carlos é cordial e não dá sinais da agressividade que por vezes transparece nas redes sociais. É reservado, não fica em rodinhas de conversa e não parece ter perfil político para articulações. 

Nos corredores do nono andar da Câmara, o filho de Bolsonaro costumava cruzar com a vereadora Marielle Franco, assassinada em março deste ano em crime ainda não solucionado pelas autoridades. 

Lésbica, negra e de esquerda, a ideologia de Marielle era extremamente oposta à de Carlos. Ainda assim, colegas de porta, tratavam-se educadamente e tentavam não levar para o gabinete as diferenças expostas no plenário.

Um ex-assessor de Marielle, no entanto, relatou à reportagem um episódio que fugiu à regra da cordialidade. 

Segundo ele, Carlos tentou intimidá-lo fisicamente quando o ouviu dizer, durante um tour na Casa, que o vereador vinha de uma família de extrema-direita, que beirava o fascismo.

Marielle, de acordo com o relato, precisou intervir para acalmar o vereador, lembrando que ele os chamava de petralhas.

 

CONHEÇA OS FILHOS DE BOLSONARO

Flávio Bolsonaro, 37
Advogado, se elegeu senador e é visto como o mais articulado politicamente e independente da família. Buscou formar um grupo político próprio no Rio, e embarcou na campanha do governador eleito Wilson Witzel (PSC) mesmo com a neutralidade do pai na disputa. Seu ex-assessor Fabrício Queiroz aparece com movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em relatório do Coaf

Carlos Bolsonaro, 36
Vereador há 18 anos e menos articulado politicamente, foi o único dos filhos de Bolsonaro que não disputou a eleição este ano. Mesmo sem mandato em Brasília a partir de 2019, tem papel central no círculo político-familiar, já que é  o responsável pela administração das redes sociais de Jair Bolsonaro desde 2014, meio ao qual se atribui o sucesso do deputado 

Eduardo Bolsonaro, 34
Policial federal e eleito deputado por São Paulo com a maior votação da história, é visto como distante das decisões políticas de Bolsonaro. Chegou a articular uma candidatura à presidência da Câmara, o que foi vetado pelo pai. Na reta final da campanha, foi divulgado um polêmico vídeo em que Eduardo afirma que é possível fechar o STF “só com um cabo e um soldado”

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