Comprado no fim dos anos 90 pelo então deputado federal Jair Bolsonaro, o apartamento que esteve no centro de uma polêmica no início do ano passado passará a ser ocupado a partir deste mês pelo estudante Jair Renan, 20, o segundo filho mais novo do atual presidente da República.
Depois de a Folha revelar, há pouco mais de um ano, que o parlamentar morava em um imóvel próprio em Brasília e mesmo assim recebia da Câmara pouco mais de R$ 3 mil mensais de auxílio-moradia, Bolsonaro declarou que a propriedade estava à venda —diante da repercussão negativa do episódio.
O anúncio se repetiu em entrevista ao vivo ao Jornal Nacional, da TV Globo, em agosto. Seus apoiadores logo aproveitaram para exaltar a publicidade gratuita em rede nacional e encheram as redes sociais com mensagens dizendo que o candidato do PSL "mitou".
O apartamento, no entanto, ganhou destino diferente do alardeado por Bolsonaro.
Jair Renan vai se mudar de Resende, no interior do Rio de Janeiro, onde mora com a mãe, Ana Cristina Valle, para a capital federal nas próximas semanas. Ele também vai trocar de faculdade e de curso.
Situado em uma superquadra do Sudoeste, bairro nobre de Brasília, o imóvel do pai de Bolsonaro Júnior, como o caçula dos filhos homens do presidente é conhecido, tem 69 m² e dois quartos.
O apartamento está registrado pelo presidente na Justiça Eleitoral no valor de aproximadamente R$ 240 mil e já foi chamado por ele de "cubículo".
Em entrevista à Folha no dia 11 de janeiro do ano passado, Bolsonaro foi questionado se usou o dinheiro do benefício para comprar seu apartamento e respondeu com ironia.
"Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro de auxílio-moradia eu usava pra comer gente", disse Jair Bolsonaro, quando era deputado federal, em janeiro de 2018.
Dois meses depois, ele deixou o imóvel e se mudou para um apartamento funcional da Câmara, de aproximadamente 200 m², também em Brasília.
A mudança de Jair Renan foi confirmada ao UOL por uma fonte próxima à família Bolsonaro, que falou sob anonimato, e por um funcionário do prédio. Segundo este profissional, o apartamento não chegou a ser posto à venda.
Um apartamento igual ao que pertence a Bolsonaro no prédio pode ser encontrado em sites de aluguel por valores em torno de R$ 2.900.
O UOL tentou falar com o próprio estudante, por meio de sua mãe, que foi a segunda mulher de Bolsonaro. Por telefone, ela disse que o filho não quis dar entrevista, mas informou que ele "provavelmente" vai morar no apartamento do pai, com quem está "combinando" as tratativas para a mudança.
A reportagem procurou ainda a Secretaria de Comunicação da Presidência para se manifestar sobre o destino da propriedade de Bolsonaro. Por email, o órgão se limitou a responder que "o Planalto não comenta".
O presidente, que está internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, recuperando-se de uma cirurgia para a retirada de uma bolsa de colostomia, foi contatado por mensagens de WhatsApp, mas não respondeu até a publicação deste texto.
ENTENDA O CASO
A reportagem da Folha apontou que o então presidenciável Jair Bolsonaro e um de seus filhos, Eduardo, também deputado federal recebiam juntos dos cofres públicos R$ 6.167 por mês de auxílio-moradia, mesmo tendo imóveis em Brasília. Até dezembro de 2017, os dois haviam embolsado um total de R$ 730 mil, já descontado o Imposto de Renda.
O auxílio é pago a deputados que não ocupam apartamentos funcionais no Distrito Federal de duas formas: reembolso, para quem apresenta recibo de aluguel ou de gasto com hotel, ou em espécie, sem necessidade de apresentação de qualquer recibo, com desconto de 27,5%. Os dois deputados federais adotavam essa segunda opção. O benefício pode ser recusado pelos congressistas.
Na entrevista que concedeu após a publicação da matéria, ele defendeu a legalidade do recebimento do auxílio, argumentando que não há "nenhuma nota técnica da Câmara, nada" que proíba o parlamentar que por ventura tenha casa de obter o benefício.
MUDANÇA DE CURSO
Jair Renan terá que enfrentar ainda outra mudança ao chegar em Brasília. Em Resende, ele cursou até o quarto semestre de direito em uma universidade particular, a Estácio de Sá. No novo endereço, vai estudar em outra instituição privada, o UniCEUB (Centro Universitário de Brasília). Desta vez, no entanto, foi convencido a se matricular no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
No site da instituição, a graduação é definida como responsável por capacitar profissionais para "estar por dentro do desenvolvimento de softwares", além de criar e implantar bancos de dados em empresas e projetar sistemas inteligentes de informação. "Resumindo, é a profissão dedicada a solucionar um problema através das ferramentas disponíveis no universo da Informática", diz o texto.
Segundo um funcionário da faculdade que presenciou a ida de Jair Renan, acompanhado de seguranças do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência da República, no fim do ano passado, um amigo do presidente orientou o jovem a escolher o curso para ajudar o pai na manutenção das suas redes sociais. Hoje, esse trabalho é responsabilidade do segundo filho mais velho de Bolsonaro, o vereador Carlos (PSC), do Rio de Janeiro.
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