Descrição de chapéu Eleições 2020 DeltaFolha

Lupa em zonas eleitorais mostra ilhas de Boulos e Crivella em redutos de Covas e Paes; veja mapas

Em mapa das seções eleitorais, Rio de Janeiro não é inteiro de Paes e noroeste de São Paulo acena a Boulos

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São Paulo

A São Paulo da votação por zona eleitoral —58, ao todo— é uma cidade pouco fragmentada. À exceção da zona sul e de parte da zona leste, essas que deram vitória ao candidato Guilherme Boulos (PSOL), todas as outras regiões optaram pela reeleição de Bruno Covas (PSDB) no segundo turno.

Fenômeno semelhante aconteceu no Rio de Janeiro, onde, no último domingo (29), Eduardo Paes (DEM) levou todas as zonas eleitorais, na disputa com Marcelo Crivella (Republicanos).

Um cenário um pouco diferente se desenha, porém, com um mapa mais detalhado, por local de votação, e com maior gradação de cor, mostrando a diferença entre os candidatos —ou seja, um zoom nessas regiões.

Os dados foram levantados pelo site de jornalismo de dados Pindograma, com base em informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre o segundo turno das eleições.

Usando dados do tribunal, do Ministério da Educação, do IBGE e do Google Maps, o Pindograma geolocalizou os locais de votação da cidade.

A seguir, posicionou esses locais na malha de setores censitários do IBGE, menor divisão demográfica possível. Os setores que não têm escolas são absorvidos pelos que têm.

O resultado disso é uma cidade com mais recortes e um mapa mais detalhado das preferências políticas de cada região.

Em São Paulo, quando se olha mais de perto para a zona sul, percebe-se grandes regiões inclinadas ao candidato tucano, embora a região apareça completamente pintada de vermelho no mapa por zona eleitoral.

A explicação do fenômeno é a baixa densidade da região, que acaba não tendo peso suficiente para tornar a zona sul inteira tucana.

Covas ganhou em seções extensas, mas com poucos votos, o que faz sua vitória ficar ofuscada pelo desempenho do Boulos nas áreas mais densas. No extremo sul de São Paulo, por exemplo, Covas recebeu 54% dos votos do único local de votação da região, a EE. Profa. Regina Miranda Brant de Carvalho.

A mancha vermelha ao centro da zona sul fica próxima à chamada "Tattolândia", região de grande influência dos irmão Tatto, dentre eles Jilmar (PT), que foi candidato à Prefeitura de São Paulo neste ano.

Derrotado já no primeiro turno das eleições, o petista afirmou um dia após o resultado que entraria "com tudo na campanha do Boulos", a quem chamou de "irmão mais novo".

Já entre Itaim Bibi e Morumbi, bairros de alta renda e com preferência por Covas, eleitores de Boulos pintam uma faixa do mapa de vermelho.

lhas do candidato do PSOL também são vistas na zona de Pinheiros e no centro. Na primeira, o tucano venceu com 65% dos votos, mas seções próximas à estação de metrô Vila Madalena (linha 2-verde), chegaram a registrar 52% dos votos em Boulos.

Seções nas proximidades do que pode vir a ser o parque Augusta, na região central, apresentaram comportamento semelhante dos eleitores, que penderam para o psolista. Essas áreas —Santa Cecília, Vila Madalena e República— são conhecidos CEPs de esquerda da cidade.

Na zona leste de São Paulo, a novidade fica na parte sul. Ali, na zona eleitoral de São Mateus, em que Boulos ganhou com pouco mais de 50% dos votos, Covas chegou a registrar 75% em um dos locais de votação.

A grande surpresa da cidade está na parte noroeste, zona eleitoral de Perus. O mapa por zona eleitoral, que dá 52% dos votos válidos para Covas, esconde certa simpatia por Boulos em algumas áreas, que chegaram a registrar 58,5%.

Para o cientista político e pesquisador da FGV (Fundação Getulio Vargas) Fernando Abrucio, a região é um alerta para o PSDB e um sinal positivo para a oposição.

"Essa eleição é uma volta do voto da esquerda para padrões mais históricos. Há um aviso para o Covas: se a próxima gestão não tiver um desempenho melhor do que a atual, a cor vermelha vai crescer na parte leste e em Brasilândia, Freguesia, Pirituba", afirma.

"O mapa mostra que tem espaço para a esquerda crescer na zona noroeste, leste e no centro."

A disputa, afirma o pesquisador, deve acontecer no campo da desigualdade de renda e de acesso a equipamentos públicos e bens culturais.

"Na zona noroeste, o Covas ganhou. Mas se a desigualdade aumenta na cidade, abre espaço para o crescimento de quem levar o discurso da desigualdade. Na verdade já cresceu se compararmos à vitória do Doria em 2016."

Ignorar esse tema, afirma Abrucio, pode ter consequências para o partido. "A eleição de São Paulo tem ciclos de votos."

"O que essa eleição mostrou foi que a força da centro-direita já passou, nós estamos parecidos com o mapa de 2008, em que o [ex-prefeito do PSD Gilberto] Kassab venceu", completa, dando o exemplo da campanha anterior à da vitória do petista Fernando Haddad.

No Rio de Janeiro, Crivella conseguiu 60% dos votos da Escola Municipal Rosa da Fonseca. Trata-se do local de votação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na Vila Militar.

O atual prefeito do Rio contou com o apoio da família Bolsonaro. Com alto índice de rejeição, no final de outubro, Crivella corria o risco de não chegar ao segundo turno.

Em horário eleitoral na TV, apostou em propaganda voltada para a união com Bolsonaro, que pediu votos para o candidato do Republicanos em suas lives semanais.

O mapa mostra outro contraste perto da Ilha do Fundão, que abriga a cidade universitária da UFRJ e votou majoritariamente em Paes. Ao seu lado, partes das favelas de Maré e Manguinhos escolheram Crivella.

Olhando mais de perto a zona sul do Rio, o conjunto de favelas Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, apagada em mapas por zona eleitoral, aparece menos empolgado com o candidato do DEM do que seus vizinhos Ipanema e Copacabana, que se pintaram de verde escuro na representação.

Já o oeste da cidade abriga Guaratiba, uma das áreas que mais apoiaram o prefeito eleito Eduardo Paes. O local está colado em Santa Cruz, bairro com grande quantidade de evangélicos. Ali, Crivella, que também é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, teve um desempenho razoável.

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